“El Resorte” é
um boliche no meio do pago, boliche como deve ser: um balcão para o
freqüentador se encostar, um gato instalado num canto, uma aranha no teto e, cá
e lá, pendurados uns salames.
Quase seria
aquela “pulperia” de que fala Sarmiento em Facundo: ali se dão e se
recebem as notícias sobre animais extraviados; fica-se sabendo onde caçar o
tigre, onde aparecem os rastros do leão. É ali onde se combinam as carreiras e
onde se conhecem os melhores cavalos; ali está o cantor, ali se confraterniza
no passar do copo. Quase seria porque, na verdade, o que mais acontece no “El
Resorte” é a confraternização, é o
passar do copo. E sempre lá estão a Duvija, o pardo Santiago, o índio Olmedo e
os outros que chegam, que passam. Todos recebem atenções e, se for o caso, um
conselho oportuno.
O índio
Olmedo, com dor de dente, escuta, do recém chegado, que deve mascar fumo. O
velho Turufa, entre vários conselhos, leva em consideração o da Duvija. Chegou
a “El Resorte” desesperado de sono. A filha gostava tanto de serenata
que toda a gauchada do pago lhe fazia o gosto, deixando o velho, sem poder
dormir. Sabiamente, Duvija aconselhou : case a moça. E foi o que ele fez. Para voltar
outro dia, morto de sono e responder quando lhe perguntaram que tal lhe tinha saído
o genro: louco por bombo.
E, entre uns tragos e um jogo de truco, o tempo sobra.
Para escutar “os causos”, para contar da vida e do coração, para armar um
cigarro de palha. E os freqüentadores de
“El Resorte” não se admiram de nada: um chega no boliche com uma
fantasminha que encontrou perdida; outro com uma planta de estimação e, ainda,
outro com um guarda chuva maluco
Agora, quanto
ao passar do copo, tem que ser de vinho. Porque diz o índio Olmedo: Cristão que se põe a tomar gasosa quando
todos estão tomando vinho, não gosta de ninguém. Tomador de gasosa nem para vizinho serve.
E ao chegar um
forasteiro, o pardo Santiago se pergunta
quanto tempo é preciso para que ele se torne de casa. E nisso pensava quando, ao ouvir um galope, no melhor estilo
de “gaúcho mau”, o estranho se encosta
no balcão empunhando a arma. A Duvija, solícita, lhe pergunta: Quer que
lhe esconda o cavalo, forasteiro? Certamente, os tempos são outros porque o
valente responde: Não esconda nada porque
depois não acho o cavalo e vou ter
que ir embora a pé.
Um mundo de
amizades e de loucuras que, no contar risonho e terno de Don Verídico (Don
Verídico se la cuenta, Montevideo, Ediciones de La Flor, 1975), só pode
parecer verdade e não essa incrível e maravilhosa invenção de Julio César
Castro o uruguaio dono de mil histórias, todas inigualáveis na arte de fazer rir.

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