São
vinte e cinco breves relatos que formam o livro Los gauchos judios,
publicado em 1910, primeira obra de Alberto Gerchunoff. Vindo de uma aldeia da
Ucrânia para a província de Entre Rios, na Argentina, buscando se livrar dos
repetidos “progroms”, parte de sua
vivência está contida nesses relatos.
A
chegada dos emigrantes europeus nos campos argentinos, seus trabalhos, suas
lutas, suas vitórias, sua inevitável assimilação aparecem em pequenos quadros.
Breves momentos – o passar do arado na
terra, o leite jorrando no balde, a nuvem de gafanhotos e o combate para
afastá-los, um duelo entre gaúchos, o roubo do candelabro - que se justapõem para fixar a história desses
personagens que vieram em busca de um mundo mais justo, desejando, porém,
refazer em cada gesto, em cada palavra a
sua tradição, seus costumes e sua fé.
No
livro de Alberto Gerchunoff são muito bem desenhados esses que vieram para a
nova terra. Com sóbria precisão, o autor delineia caracteres e evoca paisagens
mas não pode impedir que suas palavras contenham um mundo de emoções.
Esses
dois universos que convivem aparecem, de maneira exemplar, no relato “El episódio de Miryam”. Don Jacobo
representa um deles: Velho de barba rala,
nariz curvo, faces enxutas arguto, instruído, religioso, capaz de discorrer
sobre difíceis temas bíblicos. Rogelio, seu peão, o outro. Ele é o homem
inculto do campo, o que executa trabalhos rudes e se exprime, magnificamente,
pela música. São universos que convivem e que, sem dúvida, se defrontam porque
Don Jacobo repete o que lhe foi dito há centenas de gerações e desses valores
não quer se afastar. Para o gaúcho Rogelio, o passado significa silêncio e do
presente só escuta o chamado para a vida, para o amor.
Entre
os dois que tudo separa – o idioma, os costumes, as crenças – Miryam, a bela moça loira como a
tarde e os trigais. Quando Rogelio entoava uma canção no idioma para ela
duro como uma pedra, respondia inevitavelmente com um canto judeu, estranho aos ouvidos do gaúcho.
Era
festejada a Páscoa. Na improvisada sinagoga, a comunidade reunida, as moças com
seus trajes coloridos, os jovens discutindo a excelência de seus cavalos. Entre
eles, Don Jacobo com a túnica sagrada nos ombros. A tarde era de outono e
Rogelio e Miryam fugiam. Passaram como
vento, erguido altivamente o gaúcho e
ela, cabeleira solta, envolveu os que a olhavam com um olhar de desafio, os
olhos como uma chama e quando todos voltaram a si de seu
assombro, os fugitivos eram um ponto na distância.
No
caminho já trilhado há mil anos e nos qual os emigrantes desejam prosseguir,
outro surgira diz Gerchunoff: Na estrada,
a poeira levantava franjas de ouro.

Nenhum comentário:
Postar um comentário