No romance de Dyonélio
Machado, Os ratos, Naziazeno
Barbosa, funcionário público, incapaz de administrar as próprias despesas,
vê-se encurralado pela ameaça do leiteiro em não mais fazer a entrega diária
se não for pago o que lhe é devido.
Em busca desse dinheiro,
Naziazeno Barbosa deambula o dia inteiro. Procura pessoas, espera por elas,
tenta o jogo numa roleta clandestina e, sempre em busca de um empréstimo
salvador, torna às andanças pela cidade.
Uma cidade que não é
nominada, mas reconhecível. Pela menção de um ou outro logradouro, por vagas
referências ao relógio da Prefeitura e ao Mercado. Talvez por essa luz que a
banha ao entardecer e que torna Porto Alegre inesquecível.
Quase nada de suas ruas ou
de suas casas é descrito. Ela ora se agita, ora se acalma no passar dos bondes
e dos carros, nos silêncios das horas de calor. Mas, é sempre regida por uma luz inesperada e fabulosa, imersa numa
claridade cheia de vermelhos, alaranjados, amarelos.
Na estrutura do romance
esses tons se inserem como breves lampejos nas seqüências narrativas sem
impedir que o espaço urbano que iluminam deixe de ser exatamente mimético e
sem impedir que o ritmo do relato perca a sua vivacidade.
Indiferentemente,
contrastando com os medíocres obstáculos que devem ser vencidos no longo dia
de Naziazeno Barbosa, as luzes conferem ao cenário em que ele se move,
angustiado, um encanto que minimiza esse pequeno drama de batalhas perdidas.
Ou fazem com que se adensem
na cidade iluminada.

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