Durante muitos anos o livro
de poemas circulou anônimo. Na verdade, querendo ser anônimo porque, em nenhum
momento para muitos, houve qualquer dúvida sobre quem fora o seu autor.
Foi publicado pela primeira
vez, em 1952. Apenas cinqüenta exemplares cuidadosamente impressos em belo
papel e com velhos tipos bodonianos.
Houve quem pensasse, então,
que não atravessaria as fronteiras de Nápoles onde veio à luz. Mas, as duas
edições que se seguiram mostraram que, a voz do poeta, sendo inconfundível,
impedia qualquer segredo.
Assim, em 1963, já no Chile,
Pablo Neruda reconheceu Los versos del
capitán como obra sua, mas negando-se, ainda, a esclarecer os motivos que o
haviam levado a pretender esconder-se na forjada carta que apresenta os versos
como sendo de alguém que a própria missivista ignora o nome.
Foi somente em 1974, com a
publicação de Confieso que he vivido,
que o mistério se esclarece. Mais de vinte anos se tinham
passado e Pablo Neruda se sentiu livre para, enfim, contar suas razões. E o fez
no capítulo de suas memórias cujo título é o do livro que ele considera uma de suas obras mais controversas. Sobre sua gênese, diz que os
poemas foram escritos aqui e ali, ao
longo de seu destino europeu. Terminou-o na ilha de Capri, hospedado por
Erwin Cerio, historiador e naturalista que o recebeu em sua casa ao saber que
o governo da Itália, atendendo pedido do governo chileno, lhe recusava a
permanência em solo italiano.
Pela primeira vez Pablo
Neruda morava na mesma casa que Matilde. Para ela escrevia esse livro de amor, apaixonado
e doloroso. E foi esse amor, essa
paixão brusca e ardente por ela,
que o impediu de assumir a autoria de Los
versos del capitán. Não havia, ainda, se separado de sua mulher Delia del
Carril com a qual vivera dezoito anos. Para que não se sentisse ferida, optou
por não reconhecer como seus os poemas de amor que escrevia para outra mulher.
Poemas feitos desse encontro
tardio que os fez reviver e de seu destino de guerreiro onde explode o êxtase
diante docorpo feminino feito de rosa,
de fruta, de grão de trigo e diante
desses sentimentos que fundem os amantes numa
só gota de cera ou meteoro, que os torna completos como um só rio, como
uma só areia
Para Pablo Neruda ter
encontrado Matilde é o término de uma busca. A sua vinda, para ele anunciada na
pele das uvas, no toque da madeira,
na amêndoa, prenunciando suavidades se revela algo de predestinado que o poeta
almeja dure para sempre - e agora entro /
na tua vida, / para não sair mais / amor, amor, amor, / Para ficar - num
desejo de futuro que ignora todo o passado amoroso que a amada possa ter tido.
Mas, a mulher sentidos, a
mulher paixão ele também a deseja como o repouso de sua vida de guerreiro: Minha luta é dura e volto / com os olhos
cansados / as vezes de ter visto / a terra que não muda, / mas ao entrar teu
riso / sobe ao céu me procurando / e abre para mim todas / as portas da vida.
E, incapaz de se afastar de
sua luta ainda que um dia possa ter seu
sangue escorrendo nas pedras da rua,
Pablo Neruda insta a amada a ser aquela que torna suas, as verdades pelas quais
ele combate para, então, lutar a seu lado: Vamos, / e tu, minha estrela, perto
de mim / recém-nascida de minha própria argila, / já terás achado o manancial
que ocultas / e no meio do fogo estarás / perto de mim / com teus olhos bravios / levantando minha bandeira.
Mais uma vez ele entrelaça
nos seus poemas as suas paixões pela mulher, oásis, companheira e este grande
amor que ele sempre sentiu pelos deserdados e esquecidos pelos quais lutou e
que fez dele a grande, a incomensurável voz poética do Continente.

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