No décimo primeiro capítulo,
“La poesia es un oficio”, de Confieso
que he vivido, Pablo Neruda conta sobre momentos de sua vida em que o destino
de poeta que lhe coube ou que perseguiu se mostra plenamente justificado. São
os episódios da leitura de seus poemas num sindicato pobre de carregadores ou
na tribuna política diante dos mineiros de Lota. Prova comovente da relação que
pode se estabelecer entre o poeta e aqueles a quem ele se dirige.
Pablo Neruda agrupa esses
textos sob o título “O poder da poesia”, acreditando que algo ela poderá fazer
pela humanidade.
Embora o mundo se torne cada
vez mais submetido a uma tecnologia constantemente renovada e que torna
marginal aquilo que não pertence a seus domínios, dela o homem não recebe
todas as respostas. Inquieto, cercado por problemas os mais comezinhos, ainda
que lhe fique muito claro estarem as funções do poeta cada vez mais distantes,
é ao poeta que se dirigem as perguntas sobre essa ausência de rumo que
coincide com o impressionante progresso científico e tecnológico.
Não há escritor, hoje, que
não seja inquirido, mais que sobre as artes, sobre os problemas que se originam
desse conturbado viver de fim de século. Sem querer, sua voz, que
desejou apenas expressar as verdades do homem, se vê levada a responder sobre
os absurdos que sempre existiram no Continente. Como se opinar também se
constituísse uma função da qual não devesse se eximir.
Há dez anos atrás, o
professor Guilhermino Cesar, num artigo para o “Letras & Livros”, do Correio do Povo de Porto Alegre,
lembrava a entrevista concedida a Jayme Dantas, em Buenos Aires, nos anos de
1973, por Jorge Luiz Borges. O jornalista brasileiro lhe perguntou, então, se
ele arriscaria uma palavra sobre o futuro da Argentina. E Borges disse: Não exerço a função de profeta, nem sei o
que pode acontecer mas tenho uma fé quase ingênua em que a pátria se salve [...].
A salvação da pátria, porém, depende menos de nossa ação política, de nossas
opiniões políticas, e mais de que cada um cumpra de modo probo com a sua
função. Eu creio na importância da conduta individual.
E conclui Guilhermino Cesar:
São palavras que servem à Argentina, nos
dias de hoje, como também nos servem, a todos nós que assistimos, estarrecidos
ao recrudescimento do mal inexorável: muitas palavras, muitos programas,
muitas promessas e quase nenhuma
conduta realmente ética. Será que escrevi uma palavra feia?
Feia ou em desuso, ou desconhecida
pela grande maioria nos últimos tempos, seria razoável que voltasse a nortear
os atos humanos.Mas, prisioneiro da
ignorância ou da exagerada cobiça, parece que os homens mudaram,
irreversivelmente, o seu comportamento.
E a função dos que pensam ou
sentem em discordância da grande massa são apenas solicitados a enunciar suas
verdades. Como algo de raro ou de curioso porque, sem dúvida, os humanos
continuam sempre os mesmos e somente os que são iguais se comunicam entre si.
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