Em 1933, Carlos Droguett
publicava em Santiago do Chile, seu primeiro conto, “El señor Videla”.
Sucederam-se os artigos de jornal, contos, peças de teatro, romances. Muitos
deles, premiados no seu país e na Espanha. Outros tantos, traduzidos,
especialmente na França onde o crítico e escritor Francis de Miomandre,
entusiasta das letras hispânicas, já em 1952, comentava e traduzia alguns de
seus textos.
Em 1977, a Maspero de Paris
publicou Eloy, o romance de Carlos
Droguett mais conhecido e traduzido, na coleção Voix (vozes oprimidas e
dissonantes) e, em 1981, a Denoël publicou Patas
de perro cuja tradução, belíssima e impecável, foi feita por Jean-Marc
Pelorson, professor da Universidade de Poitiers.
E, é nessa Universidade, ao
abrigar um dos mais atuantes Centros de pesquisa sobre a América Latina da
França, que estão surgindo, hoje, importantes trabalhos sobre a obra do
escritor chileno.
Além dos sérios estudos
sobre o texto droguetiano, sem dúvida um universo inesgotável pela sua riqueza
e profundidade, esses trabalhos se constituem um valioso material de consulta
na medida em que fornecem informações que muitas vezes não são de fácil acesso
e que passam, então, a formar uma base imprescindível para novos trabalhos.
Sobretudo no que diz respeito à bibliografia porque as dimensões do Continente
e, ainda mais, a precariedade de suas Instituições culturais impedem, quase
sempre, não apenas o acesso ao material bibliográfico necessário, como às
informações precisas sobre a sua existência.
Assim, a tese de Regine Gay,
“Le mythe de Christ dans l’oeuvre de Carlos Droguett”, elaborada sob a
orientação do professor Alain Sicard, um dos mais reputados estudiosos da
Literatura latino-americana na França. É’ um estudo amplo, que abrange
diferentes aspectos da obra do romancista chileno (os vários elementos míticos,
os símbolos e os ritos e sua correspondência com o gênero apocalíptico, a
escrita, o espaço, o tempo e a história do mito) e que se detém na figura de
Cristo. Na ficção do romancista chileno, figura fascinante que a autora estuda
a partir de determinada trajetória: do Deus bíblico ao Cristo do Evangelho para
então relacionar Cristo com o homem do Continente: o que está mergulhado no
medo, no silêncio, na marginalização, no sofrimento físico e moral.
Além de se deter e
exemplificar abundantemente aspectos do estilo de Carlos Droguett, a tese de
Regine Gay se torna valiosa ao relacionar grande parte dos artigos de Carlos
Droguett espalhados pelos jornais do Chile e um grande número de trabalhos
escritos sobre ele no período compreendido entre 1938 e 1978. São informações
imprescindíveis para os que desejam estudar a obra do escritor chileno mas, também
de grande utilidade para os que desejam se aprofundar na Literatura
latino-americana contemporânea. E, que deixam bem claro que efetuar tais
estudos é tarefa para os privilegiados ou para os que podem usufruir dos
privilégios do Primeiro Mundo cujas tradições e recursos financeiros, aplicados
nas áreas humanísticas, permitem não somente possuir o material bibliográfico
necessário mas os meios para colocá-lo à disposição dos pesquisadores.
Porque, tanto quanto o
aspecto técnico-científico, o aspecto cultural - mercê da falta de informações
e da ausência de material bibliográfico sobre os demais países, América Latina
inclusive, - deixa evidente que as fronteiras que separam o Primeiro Mundo dos
demais continuam intransponíveis.

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