Em
meados de 1500, exclamava Lope de Aguirre: Já
que o vice-rei, marquês de Cañete, não pode enforcar de um só golpe quatro mil
soldados espanhóis que andamos aos trancos e barrancos pelo Peru, sem ocupação
e sem destino e como sabe de sobra que a fome e a ociosidade estão na origem de
todas as rebeliões, nos oferece entradas e descobertas no Sul e no Oriente
através de selvas tenebrosas e rios indomáveis, que se achamos glória será para
o Rei e se achamos a morte será para nós mesmos. Como o documenta no livro Lope de Aguirre , Príncipe de la
Libertad, Miguel Otero Silva, que, entre ficção e realidade, relata a sua
atribulada história, nela há um momento em que poderia viver tranqüilo em
Cuzco, domando cavalos. No entanto, desse mister, embora sendo um verdadeiro
mestre, estava impossibilitado pelos ferimentos recebidos numa das contendas em
que se digladiavam os espanhóis na busca de poder e de riqueza que os havia
trazido para o Continente. A mãe de sua filha havia morrido e ele, sem
possibilidades de sustentar a menina, se engajou, como centenas de outros, na
expedição que partia em busca do ouro. Mas temendo que em Cuzco ela ficasse à
mercê de todos os abusos, a leva consigo e, também, duas mulheres para
cuidá-la. Longo foi o tempo passado na selva e na correnteza dos rios, a
enfrentar todos os perigos e lutando para vencê-los tanto quanto para conseguir
alimentos. Ele está sempre atento para que a menina e as mulheres que dela se
ocupam não passem fome seja conseguindo o que é distribuído entre os soldados,
seja levando víveres numa arca ou aproveitando o que a natureza do Continente
oferece. Então, colhe as frutas que tenta definir, pois não lhe conhece os
nomes: Arrancamos das árvores uma grande
quantidade de saborosas e estranhas frutas: umas verdes em forma de pêra que
esconde uma polpa amarela e suave, outras douradas e de um gosto ácido que franze
os lábios, outras gordas e carnudas como maçãs mas de casca dura e grandes
sementes.

Em
Los nacimientos, primeiro volume de Memória del fuego, o texto “Por amor de las frutas”, cuja fonte é
História General y natural de las Índias
de Gonzalo Fernandes de Oviedo y Valdés, é um entusiasmado testemunho sobre os
sabores que o autor encontra nas frutas ao chegar na América, em 1514. Começa
Eduardo Galeano dizendo que o recém
chegado, prova as frutas do Novo Mundo e enuncia suas opiniões: a goiaba
lhe parece superior à maçã; a graviola possui bela aparência, uma polpa úmida e
branca e suave sabor. O mamey pede
repetição e tem um cheiro muito bom: Não
existe nada melhor. Porém, ao
morder uma nêspera, certo de que nada pode a ela se comparar, corrige: a nêspera é a melhor fruta. No entanto, quando
descasca o ananás seu perfume o deixa sem palavras para lhe exaltar as
virtudes. Ainda assim, conclui: Esta supera
todas as outras.
Outros
europeus foram chegando para ficar e, com eles, pouco a pouco, também, as frutas
– uvas, pêras, maçãs, pêssegos, melões –
trazidas pela saudade dos sabores ou pela negação em aceitar, como bom, o que
era próprio do Continente.




