domingo, 3 de junho de 2007

O encontro:Equador


            Foram seis peças de teatro e um livro de contos, escritos pelo equatoriano Jorge Icaza, antes da publicação, em 1934,  de Huasipungo, considerado um dos romances realistas de maior força no Continente. Como os demais que se lhe seguiram, Las calles, Cholos, Media vida deslumbrados, El chulla Romero y Fores, trata de temas políticos e raciais e se abriga, nas histórias literárias sob o rótulo romance indianista. Em Huasipungo, estreitamente, se entrelaçam as relações entre os donos da terra, quase sempre usurpada, e os índios: Alfonso Pereira, descendente de ibéricos, proprietário rural, negocia com uma companhia estrangeira, que pretendia explorar petróleo, a construção de uma estrada abstraindo o fato de que devia passar pelas parcelas de terra (os huasipungos) que pertenciam aos índios. Para atender os interesses imperialistas, não apenas se apossa dessas parcelas de terra como, ainda, os convence a trabalhar, sem nada receber em troca. Primeiro, confabula com o chefe político local e com o padre, usando argumentos ouvidos, provavelmente, de um demagogo da capital onde vivera, até então: Chegou a hora de dar vida e cultura aos moradores desta bela região! As estradas...As estradas são a vida e os povoados devem abrir suas estradas. O passo inicial é tomado pelo padre, programando uma festa solene com missa cantada, sermão e ação de graças, pois, assim, os índios, sentindo-se protegidos, trabalhariam com maior brio. Até jogar para fora os bofes, diz, com sinceridade grosseira, o chefe político. Na prática, o aliciamento foi sendo conduzido pelo padre que, depois de cada missa, falava longamente sobre  a obra gigantesca que era preciso realizar com urgência e oferecia, sem pudor, generosas recompensas de bem-aventuranças: Oh! Sim. Cem mil dias de indulgência por metro avançado na obra. Só assim, o Divino Criador lançará suas  bênçãos sobre este povoado. A seguir, foi o ato patriótico, reunindo, na praça, os habitantes de todos os arredores, num desfile de crianças e velhos que, emocionando, levou a uma participação em massa e a se deixar convencer ao ouvir a arenga: Nós  vamos realizar sozinhos o anelo de nossas vidas: a estrada,[...]. Com nossas próprias mãos, com nossos próprios corações. E os trabalhos se iniciaram e se prolongaram até que os índios trabalhando, sem comida e sem teto, começaram a se dar conta de que, outra vez, estavam sendo enganados e lesados, obrigando aquele que se pretendia dono das terras, diante de um possível fracasso de seus planos e da vergonha diante do estrangeiro, a repartir muita aguardente e uma ração de milho e de batatas para cada trabalhador. Oh! Se fosse algo espiritual. Bem... eu poderia..., murmurou o padre, ignorando que  se tratava de vida: inumana, injusta,cruel. E de condenações à morte. 

            O índios se sublevaram por suas terras, por seus animais, pelo que haviam semeado. Com a presteza como as autoridades agem em tais casos, soldados foram enviados e, diligentemente, mataram os índios, as mulheres e as crianças que estavam escondidas embaixo de umas folhagens. Incendiaram as choças.

            Na desolação dos cadáveres e das cinzas chegaram os senhores gringos

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