Foram
seis peças de teatro e um livro de contos, escritos pelo equatoriano Jorge
Icaza, antes da publicação, em 1934,
de
Huasipungo, considerado um dos romances
realistas de maior força no
Continente. Como
os demais que se lhe seguiram
, Las
calles, Cholos, Media vida deslumbrados, El chulla Romero y Fores, trata de
temas políticos e raciais e se abriga, nas histórias literárias sob o rótulo
romance indianista. Em
Huasipungo, estreitamente, se
entrelaçam as relações entre os donos da terra, quase sempre usurpada, e os índios:
Alfonso Pereira, descendente de ibéricos, proprietário rural, negocia com uma
companhia estrangeira, que pretendia explorar petróleo, a construção de uma
estrada abstraindo o fato de que devia passar pelas parcelas de terra (
os huasipungos) que pertenciam aos
índios. Para atender os interesses imperialistas, não apenas se apossa dessas
parcelas de terra como, ainda, os convence a trabalhar, sem nada receber em
troca. Primeiro, confabula com o chefe político local e com o padre, usando
argumentos ouvidos, provavelmente, de um demagogo da capital onde vivera, até
então:
Chegou a hora de dar vida e cultura aos moradores desta bela
região! As estradas...As estradas são a vida e os povoados devem abrir suas estradas. O passo inicial é tomado pelo
padre, programando uma festa solene com missa cantada, sermão e ação de graças,
pois, assim, os índios, sentindo-se protegidos, trabalhariam com maior brio.
Até jogar para fora os bofes, diz, com
sinceridade grosseira, o chefe político. Na prática, o aliciamento foi sendo
conduzido pelo padre que, depois de cada missa, falava longamente sobre
a obra gigantesca que era preciso realizar
com urgência e oferecia,
sem pudor,
generosas recompensas de bem-aventuranças: Oh! Sim. Cem mil dias de indulgência
por metro avançado na obra. Só assim,
o Divino Criador lançará suas bênçãos
sobre este povoado. A seguir, foi o ato patriótico, reunindo, na praça, os
habitantes de todos os arredores, num desfile de crianças e velhos que,
emocionando, levou a uma participação em massa e a se deixar convencer ao ouvir
a arenga:
Nós vamos realizar sozinhos o anelo de nossas
vidas: a estrada,[...]. Com nossas próprias mãos, com nossos próprios corações.
E os trabalhos se iniciaram e se prolongaram até que os índios trabalhando, sem
comida e sem teto, começaram a se dar conta de que, outra vez, estavam sendo
enganados e lesados, obrigando aquele que se pretendia dono das terras, diante
de um possível fracasso de seus planos e da vergonha diante do estrangeiro, a
repartir muita aguardente e uma ração de milho e de batatas para cada trabalhador.
Oh! Se fosse algo espiritual. Bem... eu
poderia..., murmurou o padre, ignorando que
se tratava de vida: inumana, injusta,cruel. E de condenações à morte.
O
índios se sublevaram por suas terras, por seus animais, pelo que haviam
semeado. Com a presteza como as autoridades agem em tais casos, soldados foram
enviados e, diligentemente, mataram os índios, as mulheres e as crianças que
estavam escondidas embaixo de umas folhagens. Incendiaram as choças.
Na
desolação dos cadáveres e das cinzas chegaram os senhores gringos”
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