
O
drama do autor peruano é feito de um único ato e de três vozes: a do Inca, a do
frei Valverde e a de Felipillo, jovem índio porque os outros quatro espanhóis,
os alabardeiros, são apenas figurantes e nada lhes compete dizer. O diálogo
entre o Inca e o frei dominicano, que tem, entre as mãos, uma cruz de madeira,
é como a síntese do que foi a ação colonizadora dos ibéricos no Continente, mascarada pela palavra
catequizaçãol. Primeiro, um fala de Pizarro, enviado às terras do Continente
por Deus, em nome de Carlos V, com o intuito de ganhar novos reinos para a cristandade,
impor o signo da cruz porque ao fogo de sua fé cristã se acrescenta o
fogo de sua vontade poderosa; e, também, para oferecer a esperança do céu.
Atahualpa responde que o diabo ajuda Pizarro a submeter os incas, visando obter
ouro e que a ambição o domina e o arrasta pelos caminhos do crime. Depois, as
acusações de parte a parte. O frei responsabiliza Atahulpa de incitar uma
rebelião contra os espanhóis; Atahulpa nega, argumentando que não poderia
fazê-lo, mantido preso e vigiado dia e noite; e se insurge contra a corrupção
que os espanhóis introduziram no seu reino onde ele queria impor a ordem e a
unidade. E diz o frei que dos incas, os espanhóis, embora afirmando que
chegavam em paz, receberam ameaças. Exclama Atahualpa sobre essa propalada paz:
submetendo meus reinos pela força,
escravizando a minha gente, saqueando os templos, violando as virgens
destinadas ao Sol!. O que não é
negado pelo frei – a soldadesca é sempre
brutal – que se inocenta, com veemência, na afirmação de que nunca estivera
misturado a esses atos, que a sua missão consistia, apenas, em levar a fé, em conquistar
almas. Por isso, em troca de seu batismo que faria sua alma pertencer a Deus, havia
conseguido que lhe mudassem a pena de morte na fogueira pela pena de morte no
garrote. E lhe entrega a cruz como um consolo para a morte próxima e sai de
cena. Atahualpa, enlouquecido pelo ruído dos tambores que soam sem parar, em
longa oração, invoca a Viracocha, Tarapacá, Tonapa, seus deuses que, tampouco,
lhe são de valia. É quando entra Felipillo, vestido como um espanhol. Mostra-se
humilde e compreensivo, porém logo se deixa arrebatar pela cólera diante das
palavras de Atahulpa que lhe desenham o perfil de traidor e o aconselham: tu que és ambicioso, aprende a fabricar este
objeto. Olha que fácil é: apenas duas madeiras atravessadas. Com ele, podes
submeter reinos, escravizar povos e assassinar imperadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário