No
dia primeiro de janeiro de 2006, O
Estado do Paraná, publicou um poema de Manoel Andrade. Seu título “Por que
cantamos” remete ao poema “por qué cantamos” de Mario Benedetti a quem,
inclusive, o poeta brasileiro dedica seus versos. Na breve nota que os acompanha,
Manoel Andrade explica: Num tempo em que
todos caminhamos sobre o fio da navalha, me
senti, como poeta, implicitamente convocado a testemunhar por que cantamos. Um
testemunho sobre dúvidas, injustiças, prisões, torturas, desaparecimentos e
mortes que se constituíam uma realidade para muitos brasileiros nesses vinte
anos em que a ditadura imperou no país. No poema de Manoel Andrade – feito de
uma longa estrofe de versos brancos – esse universo sombrio e escuso é
delineado por expressões que registram fatos: balas perdidas, possível
emboscada em cada esquina, caminhar
num chão minado, a violência sitia os
nossos atos, a corrupção gargalha da
justiça.... Também, pelo que tais atos engendram: são tantos os caídos, respiramos
esse ar abominável / impotentes diante do
deboche, as lágrimas repetem: até
quando, até quando,até quando.... Crônica certeira do que ocorria no pais e
devia permanecer oculto (porque vergonhoso e covarde) tal como ocorria no
Uruguai, igualmente sujeito à ditadura. Ao citar o verso de Mario Benedetti você perguntará por que cantamos há como
que uma negação para esse cantar pois é constante o medo, o espanto, o silêncio
habitado. No entanto, a pergunta se repete e, essencial resulta o ideário que Manoel
Andrade enuncia: a esperança que habita em alguns humanos e que determina
caminhos mau grado o nefasto que persiste sempre na História dos povos. Assim,
ele é pródigo no seu enumerar de razões a justificar o canto e todas elas,
enraizadas nas certezas que o fortalecem (uma
lei maior sustenta a vida, um olhar
ampara os nossos passos, o pânico retardará a primavera); na intenção
solidária que o orienta (é imprescindível dar as mãos, a paz é uma bandeira solitária / à espera de
um punho inumerável); na relação
que possui com a realidade que se mostra a todos, mas, apenas percebida pelos
que estão dispostos a ver as estrelas, as rosas, os riachos, a selva, os pássaros,
a aurora. Principalmente, Manoel Andrade é possuidor da crença na renovação (a luz se redesenha em cada aurora, no trigal o grão amadurece, alguém está parindo neste instante, há uma partícula de luz no túnel da maldade)
e da crença de uma vitória almejada na qual a luz vencerá as sombras e o canto
dos pássaros não será silenciado. Sobretudo, tem certeza de que a sua canção irá
se perpetuar para dizer das razões de um trovador que não se cala diante do que o Poder
pretende seja silenciado e que acredita ter a poesia “um pacto com a beleza. E
que no verso que escreve ou em algum lugar
deste universo o seu sonho e, talvez, de uma anônima multidão, floresça deslumbrante.

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