Autora de vários romances, entre os
quais alguns premiados, publicou, em 1989, pela Espasa Calpe de Madrid, Borges a contraluz. Seu intuito,
mostrar Jorge Luis Borges como ser humano sem se prender a nada mais que
não fossem os momentos compartilhados com ele, o que dele ouviu e as cartas que
dele recebeu.
Poder-se-ia dizer que ela se
aventura em alinhavar despretensiosas informações sobre algum estado de
espírito na infância ou na adolescência ou na juventude do escritor em Buenos Aires
quando retorna da Europa, onde fora viver com seus pais; ou sobre um ou outro
fato irrelevante. Porém dados sobre sua vida são assaz raros tanto quanto
referências a seu físico ([...] não era
exatamente um homem bonito e nem sequer tinha um físico agradável [...] .Borges
era gordinho, mais para alto e ereto, com um rosto pálido e cheio, pés
notavelmente pequenos e mão que ao ser apertada parecia sem ossos, frouxa como
que incomodada de ter que suportar inevitável
contato. A voz era trêmula, parecia
tatear e pedir licença); tanto quanto à sua maneira de ser (por trás do Jorge
que se deixava ver havia um homem que, na
sua timidez, lutava por emergir, por
ser reconhecido), as suas opiniões literárias, à relação com sua mãe e com
as mulheres; sua busca do amor, revelada nos
numerosos nomes de mulheres a quem dedicava seus poemas e contos.
Seu relacionamento com ele se
iniciou no mês de agosto de 1944, num jantar na casa de Adolfo Bioy Casares onde
foram apresentados e Borges mal a olhou. A esse encontro, por acaso, seguiu-se
outro, em dezembro, quando caminharam cinqüenta quadras por Buenos Aires até de
madrugada e, na pausa de um bar, ele a define: o sorriso da Gioconda e os movimentos de um cavalinho de xadrez. Borges tinha quarenta e cinco anos e Elena
Canto, vinte e oito. Ela diz que Borges a amava (houve um pedido de casamento)
e que o seu sentimento por ele era de amizade. Propõe-se a contar a história de um desencontro. Foram
unidos, sobretudo, por desentendimentos e mal-entendidos e, a partir deles,
ocorreu um distanciamento que se tornou definitivo.
Sem dúvida curiosa, a história que Elena Canto chama de relato de um amor frustrado; meritório,
o testemunho sobre a não ignorada interferência tirânica de Leonor Acevedo de
Borges sobre seu filho; e, talvez, valiosos, para os admiradores de Borges, os
textos que dedica a alguns de seus contos. O que sobressai, no entanto, nas
palavras de Elena Canto é a lucidez que mantém diante dos confusos sentimentos
e/ou atitudes de Borges e sua aptidão não apenas para captar o âmago da assim
tida elite argentina, mas não ter o mínimo pejo em dá-lo a conhecer. E tal
elite, pelo que pensa e pela maneira como age – pese a que se tenha em alta
conta – não é diferente de nenhuma outra entre as muitas que, assim, proliferam
por esse Continente afora.

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