Tanto
dentro da forma democrática como dentro de qualquer forma de ditadura, os
governos dos países fracos não passam de bonecos nas mãos de poder oculto do
Capitalismo Internacional Anônimo [...]. Monteiro Lobato.
Em 1935, Monteiro Lobato publicou, no Diário
de São Paulo, “Os grandes crimes contra os povos”, um artigo em que, ainda uma
vez, expressa a sua repulsa indignada diante da atuação do Governo Brasileiro.
Refere-se, inicialmente, à hipertrofia do
jogo financeiro, a determinar uma ordem
social que só pode subsistir por meio da destruição cada vez maior de vidas em
guerras periódicas e da destruição igualmente monstruosa de produtos de
alimentação na paz. E cita dados estatísticos, extraídos de publicações
brasileiras e norte-americanas, confiáveis, para enumerar a absurda
exterminação de alimentos ocorrida em 1934. Foram toneladas de arroz, trigo,
açúcar; foram mil e mil animais abatidos (porcos, carneiros, vacas, salmões);
foram árvores frutíferas arrancadas, seus frutos destroçados; leite lançado nos
esgotos, chá atirado no mar. No Brasil, oitenta milhões de sacas de café
queimados, sistematicamente a partir de 1931, como solução definitiva e perpétua do problema do café. Uma escolha governamental que ignorou as necessidades de seu
próprio povo, pois a metade da população do Brasil, na época, não consumia café
tanto quanto o interesse da Rússia, então com duzentos milhões de habitantes,
que tudo fez para comprar o café brasileiro e não o conseguiu. Além de enunciar
o absurdo (óbvio), instituído pelo governo brasileiro ao deixar que o
proprietário rural cuidasse do plantio do café, o colhesse, o beneficiasse e
depois de ensacá-lo o fizesse transportar em lombo de burro ou em carro de boi
para as estações de estrada de ferro ou para os portos quando, então, o tomava e com luxuosa burocracia e alta
técnica o queimava, relata o ocorrido com a oportunidade de negociar com a
Rússia o excedente do café brasileiro. E o faz com base no que presenciou
quando era, em 1930, adido comercial interino nos Estados Unidos e nas gestões
que realizou para que a proposta russa – trocar o excesso da produção do café
pelos derivados de petróleo que a
economia brasileira necessitasse
comprometendo-se, ainda, a efetuar o transporte de um e outro produto – fosse
concretizada.
Assim,
no início de 1931, quando retorna ao Brasil, Monteiro Lobato traz essa proposta
que encaminha, junto com o seu relatório, ao Ministério do Exterior. Como não
obtivesse resposta, torna a encaminhar os documentos à Presidência da República
e, após um mês de espera, os encaminha a outro ministério. Nenhuma resposta lhe
foi dada: A pátria sempre naquele eterno
mutismo de peixe que não foi rompido nem para fazer constar uma negativa.
Desapontado, insiste, enviando um ofício aos três destinatários, pedindo uma
resposta, porquanto se havia comprometido a dá-la ao representante da Rússia. Nada. Silêncio de morte. Os três peixes
persistiam na inviolável mudez dos peixes. Envergonhado, abandonou as
diligências. Na verdade, envergonhadíssimo
da desgraça de ser brasileiro. Porém, lúcido para formular questões acerca
da recusa do Governo Brasileiro em realizar um negócio que não apenas iria
acabar com a superprodução de café ao ter um comprador tão importante quanto os
Estados Unidos, como ao obter gasolina, querosene, óleo combustível e
lubrificante, economizar os milhões de dólares, gastos anualmente, na compra
desses produtos. Igualmente lúcido ao entender que, certamente, o que faltava
ao Governo Brasileiro era a coragem de
antepor o bem público, as verdadeiras necessidades do país, a felicidade e a
prosperidade de 45 milhões de pobres diabos coloniais que somos, aos interesses
dos grupos financeiros daqui, ligados, ao Capitalismo Anônimo Internacional que
paira sobre o mundo como tremendo Pássaro Roca controlador dos governos fracos
e promotor de guerras entre os governos fortes.
Era
nos idos de 1930...

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