O
escândalo do petróleo foi escrito e publicado em 1936 e quatro edições, num
total de dezoito mil exemplares, foram vendidos. No ano seguinte, o livro desapareceu nas trevas da supressão de todas as nossas liberdades, diz Monteiro
Lobato, anos depois, ao tornar a reeditá-lo. Acrescenta-lhe, então, outros
textos, ao todo, uma vintena. Menciona a existência de petróleo em várias
regiões brasileiras, com base em relatórios como o do geólogo Gustav Grossman
que, após estudos no país, concluiu: Dada
a sua área, a quantidade de petróleo do Brasil talvez seja maior que a de
qualquer país do mundo. Ou, em
informes como o do dinamarquês Thorvald Loch que descobriu oil-seepage (poço espontâneo, nativo, fluente, é a
existência viva, palpável, medível, utilizável do petróleo) à margem
direita do rio Mamoré. Como, também, se refere à imediata voz do governo a
negar a existência de petróleo no país e às arbitrariedades cometidas a fim de
neutralizar os trabalhos dos que se propõem a abrir poços. Lembra que, depois
de se mostrar entusiasmado com a possibilidade de existir petróleo na zona de
São Pedro de Piracicaba onde foi iniciada uma perfuração programada para dois
mil metros, Fleury da Rocha, o Diretor do Departamento Nacional de Produção
Mineral, nega a existência de petróleo nessa região: Quem influiu nesse homem para o levar a tão completo repúdio dos ideais da véspera?, se pergunta Monteiro
Lobato. Quando se tratou de abrir poços em Alagoas, um de seus homens de
confiança se insinuou para dirigir os trabalhos. Técnico especialista, ele desvia do prumo o poço de São João, já
iniciado. Logo, abandona a Companhia e parte para o Rio de Janeiro de onde
volta para Alagoas, como representante do Departamento Nacional de Produção
Mineral para provar ao Interventor do Estado que não era idônea a Companhia
para a qual trabalhara. O interventor manda interromper as perfurações.
Atuações, entre várias outras, que Monteiro
Lobato denomina programa de Não tirar
petróleo, nem deixar que o tirem, cujo fito é manter o Brasil algemado aos
trustes como um comprador que esses trustes desejam tornar perpétuo e para tal,
contam com a ajuda dos governantes brasileiros. Estes, por inépcia ou
desonestidade, se deixam levar: os Interesses Ocultos, primeiramente orientam os órgãos técnicos da
administração, que aconselham os ministros que, por sua vez, conduzem os
presidentes e, daí, os representantes no Congresso. Desse modo, partindo da pulga para o elefante, os trusts obteriam as
leis mais adequadas aos seus intuitos, sintetiza Monteiro Lobato. Assim, a
Lei de Minas que, juntamente com a negação da existência de petróleo no Brasil,
na ótica de Monteiro Lobato, nada mais faz do que servir aos interesses das
companhias estrangeiras. Assim, o Decreto-Lei 2.179, ao fixar os impostos sobre
derivados de petróleo que porventura venham a ser produzidos no país – novidade
até então nunca vista: determinar impostos sobre algo que ainda vai existir – contraria a política econômica vigente que
taxa o produto estrangeiro para que a indústria brasileira, correspondente,
possa se desenvolver e deixa a futura indústria do petróleo sem proteção
nenhuma, equiparada à indústria estrangeira equivalente.
Nesse
constatar, registrar, documentar, acusar as manhas governamentais brasileiras e
as alienígenas, quando se trata da existência de petróleo no Brasil e de seu
aproveitamento, Monteiro Lobato esboça, lamentável e melancólico cenário: Um pântano
com quarenta milhões de rãs coaxantes, uma a botar a culpa na outra do mal
estar que sentiam. Procuram soluções políticas, mudam a forma de governo,
derrubam um império vitalício para experimentar imperantes quadrienais, fazem
revoluções, entrematam-se, insultam-se, acusam-se de mil crimes, inventam que o
pântano permanece pântano ‘porque ha uma crise moral crônica’ [...] e mandam o
ministro da fazenda correr Nova York e Londres de chapéu na mão a pechinchar
dinheiro.

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