domingo, 18 de junho de 2006

Notícias de outrso tempos


            Como soe acontecer com tantos estudiosos e pesquisadores do Continente que arrostam dificuldades várias e não poucos entraves financeiros para realizar seus trabalhos e, nem sempre, dispõem de recursos para divulgá-los, Getulio Schilling é conduzido por uma persistência de sonhador. Começou a publicar aos vinte e dois anos e a esse poema em prosa, Belleza Dolorida, seguiu-se uma vasta produção. Arroladas por ele, quatro anos antes de morrer, foram quarenta e cinco obras entre ensaios, biografias, contos, poemas, peças teatrais, romances. No ano passado, sob os auspícios da Câmara dos Vereadores de Santa Maria, foi publicado A arte fotográfica e o teatro em Santa Maria, uma cuidadosa pesquisa que acompanha a chegada da fotografia na cidade e registra a sua vida teatral.

            O primeiro texto se inicia com uma breve história da fotografia em que faz menção aos precursores e afirma ser o ano de 1839 aquele em que a fotografia foi inventada. Constata que, para chegar às Américas, ela precisou de muitos anos. Em Santa Maria, primeiramente pela arte dos fotógrafos ambulantes; depois, pelos que montaram seus ateliês na cidade. Uma presença, nem sempre duradoura, registrada em anúncios em que eram oferecidos os serviços, informando o tipo de fotografia realizada, o preço, os horários de atendimento e, por vezes, as condições de trabalho: tirava retrato em qualquer tempo, Tira retratos todos os dias[...] menos em dia de chuva ou vento muito forte, não tira retrato de mortos no atelier. Mais tarde, apareceram as novidades: retratos esmaltados para medalhas e os fotógrafos amadores, que viam na fotografia uma fonte de emoções e perenes recordações e começavam a descobrir-lhes os segredos. E o desenvolvimento de Santa Maria, propiciando a existência de profissionais permanentes. No capítulo IV, Getulio Schilling os enumera e lhes traça a trajetória na cidade. Entusiasmado, se refere às revistas que, embora fossem  propaganda das companhias que representavam, a Kodak e a Agfa, se constituíam, no seu entender, revistas de arte e de ciência fotográfica, registrando novas conquistas e experiências, instituindo concursos, transmitindo as novidades que surgiam. Conclui que, num futuro próximo – o seu texto é de 1943 – a fotografia suplantará a tipografia e com seus poderes, o de penetrar na atmosfera e no fundo do mar, o de mostrar, pela radiografia, o corpo humano, e levá-lo, pela televisão, a lugares distantes, brevemente irá penetrar os íntimos refolhos da alma.


            Na segunda parte da publicação, dedicada ao teatro em Santa Maria, Getulio Schilling fixa sua origem a partir de textos existentes. Minuciosamente, inventaria os esforços para que a cidade tenha o seu teatro, os espetáculos e os locais onde ocorreram. Um importante registro ao qual se acrescentam os referentes às apresentações musicais e cinematográficas e que não é mais completo porque publicações que, certamente, ofereceriam informações preciosas foram de difícil consulta ou desapareceram. Obstáculos que faz constar: as repartições públicas dificultam a consulta de suas coleções aos estudiosos. A partir de um certo momento, não mais relaciona grandes sucessos teatrais nem cinematográficos. Ao contrário do otimismo de suas palavras quanto ao futuro da fotografia, nada de promissor ele vislumbra em relação ao teatro em Santa Maria. Ainda assim, quer acreditar que o progresso da cidade apresenta sinais de exuberante vitalidade e com ele o teatro marchará [..].

            Pela abundância de informações, esses dois textos de Getulio Schilling se constituem um imprescindível material de consulta para estudos que venham a ser feitos sobre os temas por ele tratados. E, deveras importante a sua publicação a permitir o acesso a dados nem sempre facilmente disponíveis. Enriquecida por oportunas notas elucidativas e por um conjunto de imagens que se apresentam valorizadas pelo primoroso trabalho de Valter Antonio Noal Filho, A arte fotográfica e o teatro em Santa Maria, além de se constituir uma valiosa pesquisa, é, também, a expressão do justificável desejo de prestigiar os méritos de um filho da terra.

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