O petróleo,
agora, parece ser nosso como decanta uma eufórica e entusiasta mensagem do
governo. No entanto, não são muitos os que sabem das inimagináveis desgraças e
perversos malogros acontecidos, ao longo dos anos, em que a existência de
petróleo no Brasil era negada e a sua exploração proibida. Ou das tragédias e
dos dramas que atingiram os que afrontaram tais assertivas e tais proibições.
No
capítulo “Os primeiros mártires do petróleo" de O escândalo do petróleo
(Brasiliense, quinta edição, em 1951), Monteiro Lobato lembra três deles. José
Bach, de nacionalidade alemã, estudou, durante treze anos o litoral de Alagoas
e desse estudo se originou a certeza de que era imensa a riqueza de petróleo na
região. No dia 26 de agosto de 1918, sentindo-se, talvez, ameaçado, escreve ao
Chefe de Polícia de Alagoas, pedindo proteção. Poucos dias depois morre
afogado. Ao cruzar um braço da lagoa, o
canoeiro não era o mesmo que sempre o levava: “a embarcação revira e o pobre
sábio perece. O canoeiro limitou-se a um banho.
Pinto
Martins, sócio de um senhor de Maceió, que havia adquirido da viúva de Jose
Bach os seus estudos e direitos, viaja para Londres e Nova Iorque. De volta ao
Rio de Janeiro, telegrafa para o sócio, informando que havia fechado negócio e
que assinaria o contrato em três dias. Suicida-se,
antes disso, num quarto de hotel, sem que ninguém compreendesse semelhante
tragédia [...]. A sua papelada – mapas, relatórios e mais estudos de José Bach
– desapareceu do hotel....
Barzaretti,
engenheiro italiano, realizou pesquisas em Mato Grosso. Anuncia que há petróleo
no Pantanal e que pretende explorá-lo. Súbito,
em Campo Grande, uma bala o pega. Tiro mortal. E de bons efeitos práticos:
ninguém mais falou no petróleo mato-grossense.
A
este capítulo, segue-se a “Carta aberta ao Ministro da Agricultura” em que
Monteiro Lobato relembra ter escrito um ano antes, uma carta ao Presidente da
República em que denunciava a sabotagem
sistemática contra o petróleo brasileiro, feita pelo órgão governamental
que dele deveria se encarregar. Tendo em vista que nenhuma providência havia
sido tomada, explica, decidiu repeti-la como prefácio do livro A luta pelo
petróleo de Essad Bey. Como o seu texto teve uma enorme repercussão –
muitos jornais o reproduziram – o órgão mencionado se obrigou a fazer um comunicado
aos jornais, referindo-se às acusações
aleivosas, formuladas por aventureiros de má fé. Monteiro Lobato reconhece que tal epíteto lhe é dirigido tanto
quanto aos heróicos pioneiros que à
frente das companhias nacionais procuravam, com tremendo esforço, dar petróleo
ao Brasil e se dispõe a fundamentar a sua assertiva de que os aventureiros de má fé, na verdade,
eram aqueles que atuavam no Departamento Nacional de Produção Mineral: um órgão
de enorme custo para o país. Regido por uma figura decorativa, seus técnicos
exerciam, apenas funções burocráticas e suas principais figuras eram o diretor
da Geofísica e o diretor de Geologia. Um, o detentor em primeira mão dos
resultados dos estudos geofísicos e o outro é o detentor, em primeira mão
dos estudos geológicos, isto é, dispõem,
sempre, em primeira mão de todos os segredos do sub-solo nacional, revelados
pela Geofísica e pela Geologia. Porém, mais estarrecedor, ainda, é a menção
de Monteiro Lobato de que, além de serem estrangeiros e exercerem funções no
Departamento Nacional de Produção Mineral, esses dois diretores, criaram uma
firma comercial para uso externo, a Malamphy & Oppenheim. Oferecem, em
revistas estrangeiras, serviços profissionais para os que pretendem se apossar
das terras petrolíferas brasileiras, dando, inclusive, como prova de
integridade serem membros de institutos
norte-americanos.
Todavia,
nem tais fatos, nem os demais, igualmente graves, que Monteiro Lobato foi
denunciando, durante anos, receberam outra reação por parte do governo
brasileiro que não fosse a de se mostrar
vilipendiado, vítima de falsas acusações e, portanto, no direito de
instituir um processo contra o seu detrator, visando a sua punição. Uma punição
que, verdadeiramente, ocorreu embora
baseada em tortuosas vias, pois Monteiro Lobato acabou sendo preso. Na cadeia,
ainda escreveu uma carta ao Presidente da República. Datada de 19 de abril,
inicia, dizendo que está a lhe mandar um presente de aniversário: a idéia de
fundar a Companhia Nacional do Petróleo.

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