Rosa,
codinome de Maria Célia Correia, foi presa quando seu companheiro já havia
desertado. Teria permanecido uma semana na Casa Azul (edificação situada
próxima a Marabá que abrigava um Estado Maior ao qual se subordinavam os
pára-quedistas de Xambioá e os comandos da selva de Bacaba e onde permaneciam
os prisioneiros para serem interrogados), conversando com os militares que a
trataram bem. Inclusive, alguns se emocionando ao ouvi-la contar que não era
comunista e que para estar junto com o namorado o acompanhara ao Araguaia.
Devido ao cerco dos militares não havia podido sair. Assim, ainda que não
representasse perigo – e houve militares que pensaram em mantê-la presa, por
tempo indeterminado – em nome da segurança, foi executada. Certo dia, embarcou num helicóptero, pensando que fosse fazer o
reconhecimento de uma área e entrou para a relação dos desaparecidos políticos.
Igualmente
executadas, embora já feridas, as guerrilheiras Fátima e Sônia. Helenira de
Souza Nazareth, a Fátima, tombou em 28 de setembro de 1972, num confronto com
uma patrulha dos fuzileiros navais. No “Diário do Velho Mário”, de autoria de
Maurício Grabois, consta que, após matar dois soldados, ferida nas pernas, foi
fuzilada.
A
morte de Lúcia Maria de Souza, a Sônia, que anunciou Soldado é cachorro do governo, só
atiro em quem tiver galão, se tornou a mais conhecida dentre os militares.
Morte que teria sido heróica, digna de
respeito até mesmo por parte dos inimigos. Abandonando o curso de Medicina
no quarto ano, em 1970 foi para o Araguaia. Bebia água num riacho quando
surpreendida por uma patrulha de oito militares. Obedeceu, a meias, a ordem de
por as mãos na nuca e levantou o braço
esquerdo e com a mão direita foi
desamarrando o coldre do revólver. O militar atirou, atingindo-a na coxa e
ao perceber que o ferimento sangrava muito, se aproximou. Foi atingido por um
tiro no rosto, como também foram atingidos os oficiais que o seguiam. O
soldados atiraram e mesmo com muitas balas no corpo a guerrilheira conseguiu
fugir e se arrastando se refugiou em meio a umas moitas de capim. Dois
militares a encontraram deitada de costas e com a arma na mão ainda quis
atirar. Um dos militares pisou-lhe no braço e perguntou o seu nome. Diante da
resposta, guerrilheiro não tem nome,
ele acrescentou: Nem nome nem vida e
apontou, como também um outro soldado, para lhe dar o tiro de misericórdia.
Relata: Não soltamos mais o gatilho. Ela
ia morrer mesmo, só reduzimos o
sofrimento dela. Só paramos quando as balas de nossas metralhadoras terminaram.
Ela ficou com mais de 80 furos. E insepulta porque, preocupados em salvar a
vida do militar ferido, não perderam tempo com a inimiga morta. Que tampouco
foi enterrada pela equipe que foi fotografá-la para reconhecimento em Brasília.
Nos
últimos dias de setembro de 1974, Walkíria Afonso Costa, a Val ou Vera, foi
executada com três tiros.
Estas
execuções foram contadas por militares que participaram das ações contra os
guerrilheiros no Araguaia a Hugo Studart e tais relatos fazem parte de seu
livro A lei da Selva: estratégias, imaginário e discurso dos militares sobre
a Guerrilha do Araguaia (Geração Editorial, 2006). Como um grande número de
outros , assim, trazidos `a luz, se constituem bem mais do que uma simples
reconstituição de fatos. Além de mostrar como as mortes de Fátima e de Sônia,
marcadas pela coragem, passaram a alimentar o imaginário dos militares
(propósito inicial da pesquisa), dos moradores da região e dos guerrilheiros,
leva a imperiosos questionamentos. Entre outros, se fora efetivamente preciso
executar as guerrilheiras depois de presas ou feridas; se deveriam ter sido
deixados insepultos os corpos dos inimigos abatidos ou enterrados sem a devida
identificação. E a uma interrogação maior: de quem emanava a ordem para as
execuções?

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