domingo, 2 de outubro de 2005

O rei precisa de cavalos


Juan  Núñez de Prado foi designado pelo Vice-rei do Peru para fundar uma cidade. Partiu de Cuzco,   numa expedição que  percorreu um extenso itinerário no qual  enfrentou discórdias e lutas e toda sorte de desventuras. Carlos Droguett, sem se afastar da História Oficial,  relatada nas Crônicas da Conquista, refaz esse caminho em El hombre que trasladaba las ciudades ( Barcelona, Noguer, 1973), um dos mais belos e perfeitos romances latino-americanos. No segundo capítulo, o capitão e seus homens avançam no Continente em  busca de um sítio para assentar, pela segunda vez, a cidade. 

            Eles não se dão conta do tempo  em meio à fome, ao sono, ao cansaço e ao desalento, levando a cidade nas carretas para fugir dos espanhóis do Chile que a pretendem. Juan Núñez de Prado,  partira com cavalos e  com os cavaleiros empobrecidos e sonhadores, lustrosos pela miséria, perseguidos e solitários, com os índios,  três frades e umas tantas promessas de receber além dos cavalos, roupas, alimentos e bois, cabras, ovelhas e porcos. Argumentara com o vice-rei que apressava a sua partida ( quero te escutar galopar antes de sete dias) ter apenas sete cavalos e precisar de  duzentos,  números que não constarão do relato ainda que, em certo momento, um soldado conte os cavalos;  ainda que, antes de partir,  Juan Núñez de Prado mencione as intenções do Padre Gomar: iria comprar todos os cavalos do Reino para que subissem as serras  a espiar entre as nuvens do sol crepuscular as primeiras estrelas, os rios    esmagados contra o horizonte, as boas terras. Já ao procurar um outro lugar  para a cidade, Juan Núñez de Prado constata ter somente três carretas com suas rodas muito velhas e gastas e poucos cavalos” e escuta um dos capitães lhe dizer que tem, apenas, uma centena de cavalos gastos, feridos e doentes e que dom Francisco, sob as ordens dos espanhóis do Chile,   havia levado embora  os outros quando da sua incursão  ao primeiro assento da cidade. O que então fizera e  dissera, é relatado,no primeiro capítulo do romance, pelo capitão, mas é, somente quando estão a caminho da mudança da cidade  que surgem as menções aos cavalos que  ele trazia ao chegar (vem o dom Francisco trás muitos cavalos gritavam) e aqueles que levou – os melhores. Como sempre, no relato de El hombre que trasladaba las ciudades, as informações se mostram difusas, ambíguas.  Assim, a surpresa do capitão que,  ao ver cavalos lutando contra a torrente, percebe que dom Francisco não tinha lhe roubado tudo pois deixara cavalos não sendo, portanto, tão mau. O que,tampouco se esclarece no romance pois não são identificados os que disseram que ele tinha roubado todos os animais ( como diziam estes desalmados) e, permanece desconhecida a razão de ter presenteado Juan Núñez de Prado com um belo cavalo branco e de não ter se apossado de todos os animais, pois, como  rival do capitão,  saberia da importância de possuir cavalos para efetuar a conquista dos territórios.


 Quando se trata de , mais uma vez, mudar o assento da cidade, um dos capitães logo concorda, dizendo: vivo a cavalo, o cavalo é para mim a minha casa e meu caminho [..]. E um dos soldados,  apegado  à casa que edificara e às árvores que plantara o acusa: tu queres somente soldados a cavalo, agarrados aos arcabuzes e as adagas, somente queres soldados. Juan Núñez de Prado responde que é disto  que o rei precisa:  soldados, cavalos e cruzes. Afirmativa que não convence seu interlocutor e, então,  é levado ao surpreendente argumento dos que acreditam nas divindades ou que dela se sevem par justificar os seus desígnios : Jesus é  saúde e força e desafio, vem conosco, está  demolindo a cidade para edificá-la mais firme e mais potente [...] Jesus está a cavalo conosco[...]  

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