Atenea,
publicação semestral, editada pela
Universidade de Concepción, foi fundada em 1924 e no seu número 489,
homenageia Pablo Neruda com trabalhos de
Alain Sicard, da Universidade de Poitiers (França), que possui um dos mais
respeitados centros de pesquisa latino-americana da Europa, de Hernán Loyola
organizador das Obras Completas do
Poeta, publicadas em Barcelona e dos professores e pesquisadores chilenos,
Dario Oses, Enrique Robertson e Mario Rodriguez F. Trabalhos que analisam a
temática da luz e da sombra, as duas
poéticas que constituem a poesia
nerudiana, sua articulação e inseparabilidade; a noção da morte que o Poeta introduz nos
seus versos como uma entidade que, deliberadamente, evita nomear; a imagem da
amante invisível, a sua relação com os livros, a amizade com Picasso, as
conexões possíveis entre Residencia en
la tierra e o Canto General. A
partir de textos precisos do Poeta, de fatos e documentos ainda não estudados,
fazem parte desse mar de palavras, alçado neste ano, procurando aproximar-se da
obra do Poeta com o rigor indagativo
que a sua obra merece.
Na
sua segunda parte, Atenea oferece testemunhos de amigos que o mostram em momentos
originados de uma convivência do cotidiano e, ainda, reproduz a conversa do
Poeta com a jornalista Sara Vial, em março de 1965, um pouco antes de ir à
Inglaterra onde receberia o título de Doutor Honoris Causa na Universidade de
Oxford. Entrevista publicada em La Nación, no dia 28, reproduzida no livro
Neruda em Valparaíso, em 1983 e
agora, outra vez, vinte anos passados. Nela,
Neruda fala sobre Valparaíso, cidade que o encanta a ponto de dizer que
é a melhor obra de Deus o que, na verdade é pouco em
relação às palavras que lhe dedica no seu livro de memórias. E sobre essa casa
que ele comprou a meio construir e foi terminando com paciência e com tempo e
que se tornou cenário para esses objetos de sonhos revisitados que lhe foram
tão importantes possuir como o cavalo da selaria de Temuco. Menciona o novo
livro que irá ser publicado nesse ano no Chile, Arte de pájaros e, indignado, a carta em que o Inspetor de Obras
Municipais determina que mande podar as árvores de sua casa ou extirpá-las de
vez para evitar que novas reclamações dos vizinhos sejam feitas e para cumprir
com as leis de Construção e Urbanismo. O Poeta pergunta, perguntando-se, como
responder a essa carta – permitindo que destruam as suas árvores, sua casa, as rochas? – e, esperançoso, admite que a
municipalidade, ao não poder enfrentar o mar e exterminá-lo, pelo menos, terá
que deixá-lo à margem de seus regulamentos.
Se
as árvores de suas casas continuaram crescendo, a revelia dos vizinhos
implicantes e das leis municipais ou por essas leis destruídas, poucos são os
que podem testemunhar. Mas, nas palavras que deixou escritas, elas se
erguem perenes na descrição do bosque
chileno na primeira página de Confieso
que he vivido e nas odes à araucária
e à acácia mimosa.
“Oda a la araucária araucana” (in Nuevas odas elementales) é um longo
louvor à árvore (dura, bela, torre do Chile, pavilhão do
inverno, nave de aroma, coroa verde, pura mãe dos espaços, lâmpada do frio) e a seus frutos (farinha, pão silvestre / do indomável / Araucano,
fruta, o pão derradeiro da pátria, pão
de valentes, / alimento / escondido / na molhada aurora / da pátria).
Porque ela presenciou as guerras que dizimaram os índios Araucanos (A cruz, / a espada ,/ a fome). Porque
dela o Poeta deseja a resistência contra os males, a proteção para o seu
sentir, para aqueles que ama, para os ombros dos valentes.
Em “Oda al aromo” (in Tercer libro de las odas), seus versos
dizem primeiro da emoção ao perceber uma
montanha / de luz amarela, / uma torre florida e o perfume que se espalha: a
acácia mimosa, construída de mel e de
perfume e em que ele vê a catedral do
pólen ,/ a profunda / cidade/das
abelhas. E perde a voz diante da árvore cuja presença é feita da cor: amarela
/ como nenhuma coisa pode ser ,/ nem o
canário, nem o ouro ,/ nem a pele do limão, nem a gesta e da essência que
exala: explosão do perfume. Então, ele a proclama colméia do mundo e assumindo uma voz coletiva, “nós”, expressa o desejo de ser vespa ou besouro silvestre
para se fundir na ramagem amarela até ser
somente aroma.

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