domingo, 14 de novembro de 2004

As queimadas

            Em 2001, a Academia de Trovas do Rio Grande do Norte promoveu um concurso cujo tema “Queimada” atraiu mais de duzentos trovadores de vários estados brasileiros. Além dos vinte e sete trovadores do Rio Grande do Norte, vinte e nove, principalmente de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul também foram selecionados. Suas trovas foram publicadas pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA)  e, em 2002, pelo Centro de Recursos Ambientais da Bahia.


            Submissas ao heptassílabo e às rimas alternadas ( entre as rimas ricas, também  as que não eludem a facilidade das palavras terminadas em ão) e ao tema, repetem, o que é inevitável, certos vocábulos (carvão, fogo, vida, cinzas, morte).

            Mas, nessa grande qualidade que é saber condensar em  quatro versos o que é desejado expressar, se mostram essas trovas, na sua simplicidade, de uma grande força poética e inigualável poder de comunicação . Porque, em seus pequenos versos, a síntese parece ser a medida exata para dizer o imprescindível sobre uma prática inegavelmente condenável no  que significa de destruição. Em muitas delas, a queimada se define como guerra, crime hediondo, angústia e morte, jogo insano, devastação, inclemente, criminosa, criminosa ação, criminosa violência macabra festa, devastação, praga desgraçada. Evidente, também, constar o efeito dessas ações: atroz e daninho,  vidas ceifadas, extinção da vida, cinza de uma floresta, terra ferida, terras devastadas, terra despovoada,  migração e morte de animais, erosão.   E o móvel dos atos predatórios -  a desonestidade, a ignorância, a ambição desmedida – que, certamente, poderiam ser neutralizados por sanções (ou por pesadas sanções).

            Para combater a queimada os trovadores têm, apenas, a palavra e a alçam com esperança. Pedem aos agricultores e a todos aqueles que se sintam concernidos, que nunca mais façam queimadas para não destruir a própria vida  na destruição da flora (planta florida, mata plantada , árvores tão bem formadas, matas sagradas) e da fauna cujo habitat desaparece nas cinzas após a macabra festa do fogo

            Um desequilíbrio inquestionável cujo testemunho se enlaça na emoção diante do que é presenciado: a juriti, desolada ,/ chora a falta de seu ninho..., um sabiá solitário / chora a morte da floresta...; e se enraíza no próprio sentimento: Cena triste em mim gravada, / quando a mamãe tico-tico / voltou, depois da queimada, / trazendo um verme no bico.

            Pedir, porém não parece ser suficiente. Alfredo de Castro, de Minas Gerais, então, exclama esse óbvio:  Sem uma luta acirrada, sem punição com firmeza /  não se põe fim à queimada / da nossa mãe natureza!.

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