Pablo
Neruda tinha dezenove anos quando publicou seu primeiro livro, Crepusculário.
Da emoção de ver seus versos impressos, ele irá contar no capítulo segundo
de “Las vidas del Poeta. Recuerdos y memórias”que escreveu para a revista O
CRUZEIRO Internacional, em 1962 Livro
ingênuo e sem valor literário, diria, anos depois a Alfredo Cardona
Peña que registrou esse testemunho na revista Cuadernos americanos
(dezembro de 1950). No entanto, essa
edição, vendida por quinhentos pesos o que, na época, equivalia a menos de
cinco dólares e ilustrada por Juan Gandolfo, foi recebida com aplausos pela
crítica. Prudente, Pablo Neruda reconhecia, no primeiro poema do livro que a
sua voz se erguia em rosas trêmulas,
nem pomposas, nem fragrantes. As primeiras de seu desconsolado jardim adolescente. Modéstia em que se entrelaçam a idéia das
primícias e o reconhecer-se jovem e triste, revelando como que um pedido de
compreensão, dirigido a um irmão caminhante. Interlocutor que o Poeta imagina
seu semelhante nessa busca que empreende como, também a mulher (carne e
sonho, a menina, a camponesa), a rmã, o pai, o irmão de alma, o amigo, os
amigos, alguém indeterminado, o
amor, ele mesmo, o velho cego, as ponte, o ferro, o vento do mar , a infelicidade, Deus. Dirá
de suas inquietações e
perplexidades diante da vida; de sua melancolia frente ao passar do tempo; de
suas ânsias e devaneios amorosos;. de sua visão de mundo e preocupação com os
seres inanimados; de seus laços afetivos
com o pai e com a irmã, de sua ligação solidária com os assim denominados
amigos; de sua admiração pelo que Deus criou. E, muitas vezes, os interpela .
Um recurso - fazer perguntas, dirigir-se
a alguém - que irá conservar ao longo dos anos, expressão de seu desejo de compartilhar
com os demais o que lhe vai na alma. Incertezas e melancolias próprias dos primeiros anos às
quais se acrescem aquelas da criança privada de sua mãe e
que se sente, irremediavelmente, abandonado, pontilham os poemas de Crepusculario.
O Poeta as enuncia a si mesmo (Para que
dizer a canção / de um coração que é tão pequeno?, Que eu com os olhos
quebrados sigo um caminho sem fim / Por que dos pensamentos, por que da vida em
vão?, Vai-se a poesia das coisas / ou não a pode condensar a vida?); ou, se
projetando no outro ([...]cego, que espera da dor?, [...] que podes esperar
?, cego, sempre será teu ontem amanhã?, Aonde vais agora?.Ou, ainda,
dividindo a desesperança ( Homens de coração ingênuo / O que mais podemos
esperar?). Antropomorfizando as pontes, lastima-lhes o destino de permanecer
imóveis quando as paisagens, a vida, o sol, a terra, seguem a viagem sem fim.
E as perguntas a elas dirigidas, que o termo maldição introduz, são, na
verdade, aquelas que o espanto de viver – e ter consciência de que tudo é
transitório - origina. Alguma vez
procura respostas, como no poema “Saudade”, em que busca o significado da
palavra, estranha ao espanhol, em dicionários empoeirados e antigos / e em
outros livros, em que pergunta a alguém
que, também, a ignora.
E, se entre as perguntas, existe aquela que
jamais será respondida ( Deus – de onde tiraste para acender o céu / este
maravilhoso crepúsculo de cobre?), outras há, enigmáticas, recônditas,
fascinantes que somente o engenho e arte
de um outro poeta poderá responder.

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