Em
novembro de 2003, foi lançado, em Porto Alegre, o Caderno de Literatura
(Ano VII, número 11), publicação da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul,
AJURIS, constituída, sobretudo, de textos de magistrados gaúchos (embora acolha
a contribuição de magistrados de outros Estados e de Portugal). Nas páginas de
seu primeiro número, “Visão”, belo e expressivo poema de Jorge Adelar Finatto
(um entrelaçar-se ao rio e às terras de Porto Alegre, um submeter-se à condição
humana e, também, à esperança), cujos últimos versos podem ser a síntese do que
a revista da AJURIS irá representar: um
caminho onde a emoção navega. São poemas, contos, relatos, crônicas,
comentários de leitura que demonstram a interação
da Magistratura com a sociedade da
qual ela é parte integrante: Julgadores
por missão constitucional, escreve, no sétimo número da publicação, o então
Presidente da AJURIS, Luiz Felipe
Silveira Difini, mas, também – e principalmente – homens e mulheres que, na
sociedade brasileira, vivem suas vidas, trabalham, amam, lêem, escrevem, riem, choram. O que significa ser a matéria
do Caderno de Literatura feita de imaginação, lirismo, lembranças, reflexões,
intensamente rica ao expressar emoção e instigante nos textos que traduzem
preocupações sobre as distorções sociais – e a pobreza e a injustiça e o
alijamento – que emergem sem travas.
E,
o render um tributo às Missões Jesuíticas do Rio Grande do Sul, confere, ao
décimo primeiro número da revista, significados, sem dúvida, especiais. O
romancista Luiz Antonio de Assis Brasil, preconizando que é hora de acabarmos com o infantil preconceito contra a experiência
missioneira, experiência que, no seu
artigo, delineia; o juiz Adair Philippsen, não deixando esquecer, no poema “Tambores
distantes”, os males causados em nome das perenes e imutáveis verdades com as
quais os dominadores pretendem, sempre, justificar seus crimes. Assim, lembrar
o grito de guerra de Sepé Tiaraju, Esta
terra tem dono parece extremamente oportuno num momento da vida nacional em
que direitos adquiridos – independente ou não de privilégios – são ameaçados.
E, também, num sentido mais amplo, se considerada a postura do país diante das
injunções políticas e econômicas que lhe são impostas. Porque o que tem sido
dado a ver – e não apenas nos dias atuais, mas, ao longo da sua História – é a
perigosa (e ultrajante) facilidade em aceitar orientações alienígenas, advindas
de outros hemisférios. O que, hoje, adquire uma importância maior diante do que
o atual suposto dono do mundo preconiza como certo e que, mal e mal e muito
pouco, é contestado pelos países do Primeiro Mundo e pelos outros (até porque
esses nunca tiveram voz). Embora, não sejam desconhecidos os verdadeiros
motivos, sob os quais se esconde esse dono do mundo, para clamar razões, nem
tão pouco o número das vítimas inocentes, alvos de massacres que somente a razão do mais forte justifica.
Daí que esta terra tem dono, exclamação
imperativa, reivindicação inconteste, assertiva dolorosa, emitida pelo índio
face à agressão irracional e gananciosa dos que chegavam ao Continente deveria
ser, no Continente, um conceito vivo e constante, em face de todas as
imprudentes debilidades – pequenas e grandes praticadas por cidadãos, não
importa qual seja o seu lugar na sociedade – que põem em risco o idioma, a
idiossincrasia, as riquezas, enfim, a soberania do país.

Nenhum comentário:
Postar um comentário