Los
años com Laura Diaz é a história de uma vida que, entrelaçando-se
com outras, se adentra no século XX e o
percorre, fazendo dele, também, um
personagem.
Laura
Díaz nasce numa propriedade rural do México e vai descobrindo o mundo. O que
lhe está próximo e esses outros onde vai chegando – Xalapa, cidade do México, Detroit, Lanzarote –
mergulhada no seu fado. Sempre à sombra dos homens a quem ama, será testemunha
de idéias e das lutas que por elas livram os homens até descobrir,
tardiamente, o próprio caminho. Escuta,
percebe, critica, se opõe, constata significados que se lhe deparam nos
diálogos e monólogos cujas temas – a Revolução Mexicana, o império nazista, a
Guerra da Espanha – tanto quanto os interrogantes sobre a justiça, a beleza, a
fé, as possíveis verdadeiras razões que estão na origem dos fatos, esboçam
momentos e determinantes históricos dos anos que se sucedem. 

Haja
visto a tradicional postura dos estudiosos que pertencem aos pólos irradiadores
de cultura - não somente possuem meios de realizar pesquisas como os de publicar os resultados,
quase sempre, aceitos, sem senões, pelo resto do mundo – que, muito raro, se
ocupam de temas que não sejam aqueles relacionados ao seu próprio mundo, a
Revolução Mexicana que desatou todas as
forças adormecidas do país não ocupa
o lugar que merece, sobretudo no que se refere ao seu ideário, indiscutivelmente
inovador. No México, alimenta fortemente
o texto ficçional e a tal ponto
que é possível falar do “romance da revolução”. Em Los años com Laura Díaz sua
presença é algo de distante – não mais descrições de lutas e ações heróicas
como em Gringo viejo (1985), –
mas irá se impor com essa outra realidade em que também cabem os operários e a
sua luta. Uma vertente expressa por Juan Francisco Lopes Greene, marido de
Laura Díaz, líder da classe operária. Na primeira vez que encontra numa festa
aquela que irá ser a sua mulher lhe conta como
se organizou a luta operária na
Revolução, começando nas fábricas e nas minas e lutando contra a ditadura
de Huerta. Está convicto de que os camponeses que tem nos chapéus a imagem da virgem, assistem a missa de joelhos, não são modernos e sim católicos e rurais e
reacionários. Que os verdadeiros revolucionários são os trabalhadores. Na voz
do amigo que o levara à festa, outras verdades, expressando as contradições de
uma revolução contraditória num país contraditório. E outra vez Juan Francisco,
amparando-se no pronome “nós”, reafirma a força do operariado frente ao poder
que até concede aumento de salário, jornada de oito horas semanais, semana de
seis dias mas não a democracia. Mais tarde, já casados, na cidade do
México, ele fala à multidão, no dia 1 de
maio de 1922, para exigir o cumprimento do artigo 123 da Constituição onde pela pela primeira vez na história da humanidade o direito ao trabalho
e à proteção ao trabalhador tem a força de lei. Em casa, ele reúne os amigos do Sindicato e
nas discussões se elevam suas vozes, a eloqüência que havia estado emudecida durante séculos inteiros, percorrendo, na intenção de entender, os
meandros da busca pelo poder que termina por destruir toda e qualquer boa intenção
até que, por fim, o anfitrião argumenta:
- Camaradas, a nós o que importa são as
coisas muito concretas, a greve, os salários,
a jornada de trabalho, e logo obter outras conquistas como as férias
pagas, a maternidade remunerada, a
estabilidade social. Não percam isso de vista, camaradas. Não se percam
nos abismos da política.
Depois, o filho já moço, que ele instrui
sobre a história do movimento operário no México, existente já em 1867, quando foi celebrado o primeiro Congresso
Geral Operário da República Mexicana. E
mais tarde, explica a sua mulher que o
questiona, da dificuldade em manter a fama de revolucionário valente e de conservar o heroísmo quando a idade e as circunstâncias já não
o permitem. É quando o homem se
sobrepõe, então, ao papel que representa
e numa frase sintetiza esse destino que, sem perdão, condena o homem, ainda que
persiga utopias: Todos lutamos pela Revolução
contra a injustiça mas também contra a fatalidade. O que significa não querer continuar a ser pobre, humilhado, sem
direitos, crescer com fome, repartir o mísero espaço com muitos, ver a mãe
tornar-se uma anciã aos trinta anos.
Alongam-se
os diálogos, se interrompem para reaparecer páginas adiante. Os personagens se
extraviam nos seus sentimentos e nas suas razões. O ritmo narrativo se torna
lento e o desejo de esclarecer ou convencer, prevalece, então, num relato que ao se desejar realidade e testemunho,
elimina, por vezes, as fronteiras entre o elemento ficcional e o
dialético/didático.
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