A julgar pelos
escritos publicados, em 1937, pelo El Mono Azul de Madrid, Hora de
España de Valencia e Commune de Paris, recolhidos por Manuel Aznar
Soler e Luiz Mario Schneider, no livro Ponencias, Documentos y Testimonios,
Volumen III (Barcelona, Editorial Laia, 1979), do II Congresso Internacional de
Escritores Antifascistas, realizado, em Madrid em julho de 1937, foram poucos
os escritores latino-americanos que estiveram presentes: José Mancisidor e
Carlos Pellicer, do México; César Vallejo, do Peru; Nicolas Guillén e Juan
Marinello, de Cuba; Raul Conzáles Tuñon, da Argentina e Vicente Saenz da Costa
Rica.
Recebidos,
fidalgamente, pelos espanhóis republicanos, a paisagem e o contato com o povo
os emocionaram e, entre lembrar as origens ibéricas e encontrar inequívocas
razões de admiração pelos feitos heróicos nas trincheiras, houve, muitas vezes,
por parte deles, exageradas e apologéticas expressões, mesclando-se a
incontestes adesões e as certezas da vitória que almejavam. Carlos Pellicer e
Vicente Saenz, no entanto, embora não isentos da paixão que se revela nas
frases grandiloqüentes – Mas não há nada
mais belo, dramático e cheio de vida que a ação dirigida em favor da causa dos
oprimidos do mundo inteiro – e nas expressões que eram de uso de todos – justiça,
horrores de uma guerra, opressão, vítima do fascismo, barbárie, heroísmo
– guardaram uma lucidez que lhes permite dizer o que até então parecia estar
sendo ignorado.
Carlos Pellicer é um dos
poucos a mencionar a inércia da Sociedade das Nações ao abandonar a Abissínia a
sua sorte e o desinteresse do imperialismo inglês ou francês ou norte-americano
em, efetivamente, ajudar a Espanha republicana. Uma ajuda que, no seu entender,
tampouco aqueles que participavam do Congresso poderiam oferecer, pois alguns
deles, por razões políticas, não poderiam voltar a seu país de origem e os que
pudessem fazê-lo, não encontrariam condições, junto a seus governos para
levá-los a assumir uma posição contrária a das grandes potências.
Vicente Saenz, por sua vez, inicialmente, faz uma
pergunta: o que podem fazer os trabalhadores intelectuais e manuais, dos
pequenos e fracos países ou das grandes potências para esmagar o fascismo ?
Pergunta que parece condenada a ficar sem resposta. Ao argumentar que os aviões
da Alemanha e da Itália voam com o combustível das companhias inglesas,
holandesas e norte-americanas; que as armas fabricadas devem ter, obviamente,
um comprador; que a Internacional
Socialista se limita a pedir à Liga das Nações que os governos se
atenham ao Direito Internacional, acaba por concluir que as duas Internacionais
se mostram ineficazes para deter as forças do fascismo, do nazismo e do imperialismo.
Como outros que usaram da palavra, também ele está convicto de que não é
somente o destino da Espanha que está em jogo nessa luta desigual, mas o futuro
de todos, pois, se ela estando tão próxima, geograficamente, da França e da
Inglaterra, é passível de sofrer ataques sangrentos por parte de potências
estrangeiras, o que podem esperar as frágeis e desamparadas nações
latino-americanas. Sua palavra se ergue, então, para testemunhar sobre os
combates contra a voragem do capital
monopolista no Continente, expressa na presença de soldados estrangeiros e
couraçados e aviões de bombardeio no Haiti, no México, em Santo Domingo, na
Nicarágua, em Cuba, em Porto Rico. Lutas sem vitória que ocorreram, sem que os
europeus se dessem conta: O Velho Mundo
olhou sempre com indiferença para as dores da América Hispânica é a constatação que faz. Pertinente, nesse momento em que
os intelectuais reunidos na Espanha se indignavam e se compadeciam com o que
lhes era dado presenciar. Talvez, poucos tenham sabido desses outros massacres
que fizeram, ao longo dos anos, parte da História do Continente e dos quais os
ibéricos nem sempre estiveram inocentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário