Em
1955, Jacques Stephen Aléxis publica o seu primeiro romance, Compère Général
Soleil (Paris, Gallimard). Quarenta anos antes, os norte-americanos
haviam desembarcado no seu país para nele estabelecer, à força, uma espécie de
ordem cujos resultados lhe seriam, especialmente, propícios: na Constituição
que, em muito pouco tempo, eles deram ao Haiti, eliminaram o artigo presente
nas dezesseis Constituições anteriores que proibia, aos estrangeiros, a posse
da terra. Logo, as companhias americanas passaram a dominar a economia do país
cujo nível de vida setenta e sete dólares por ano, por pessoa, segundo
estatística das Nações Unidas, na época, hoje é um dos mais baixos do mundo.
Jacques
Stephen Aléxis cria a sua história ficcional, inserindo-a nesse mundo, super
povoado e miserável e sufocante de Port-au-Prince, fazendo seu herói, um jovem negro pobre,
maltratado e epilético: Hilarion Hilarius. Ele acaba por ser vencido pelo
Sistema que combate, mas antes disso, ainda acredita que há um caminho a seguir
que se tornou claro para ele, no dia em que viu um grande
sol vermelho a luminar o peito de um trabalhador. Esse olhar do personagem
para a esperança, a expressar um anseio de vida é também, o olhar do narrador a
se deter num cenário, que embora,
degradado muitas vezes. se
ilumina de belezas.
O
“Prólogo” que antecede as três partes da narrativa é construído, graficamente,
em dois momentos narrativos entrelaçados:
em itálico, as andanças de Hilarion Hilarius pelas ruas de
Port-au-Prince, a sua incursão na casa rica para roubar e a sua prisão. Em
cursivo, breves seqüências a dizer da noite na qual se inscreve essa aventura.
Uma noite humanizada por recursos estilísticos
que a exibem como uma bela jovem coberta de jóias elétricas, de flores de fogo que ardem ou com suas
espáduas negras e seus cabelos de pequenas nuvens de lã branca a enfraquecer lentamente; que a fazem dinâmica a estremecer
com as estrelas ou partir com passos de
lobo; que a fazem vibrar e induzir à
dança os homens e as coisas. Ou que lhe atribuem qualidades inocente
e cúmplice, virgem negra, voraz, azul
como a tinta, pérfida, vestida de negro, tropical, cheia de zumbis e de estrelas. Ou,
ainda, lhe atribuem estados de espírito: pálida
e triste como à véspera de abandonar seu combate com a Aurora, prendendo-se, ainda, desesperadamente nos relevos da paisagem
enquanto o branco tímido do dia começava a se insinuar; quase vencida, crivada
de dardos claros,a fugir diante da Aurora.
São
breves pausas como pequenos poemas, insistindo a tomar alento nesse levantar de
olhos para o céu a interromper a tristeza do relato. O “Prólogo” termina com
Hilarion Hilairius acordando na cadeia, dolorido pelos maus tratos, desejando a
morte para se libertar dos sofrimentos dessa longa noite e daquelas que a vida
sempre lhe infligiu. Mas, deixa-se ficar, deixa-se adormecer. E imagem de
alegria e força esse galo com sua crista de sol, com as asas brilhantes a cantar loucamente acenando para a vida. A
noite findara.

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