Em “Rosedal”, poema que faz parte de Cuestiones con la vida, Humberto Costantini, no que define como o civilizado transcendente e culto
portenho universal registra a sua
experiência no país dos outros que o leva a se dizer ancorado na cidade do México isto é estar aí
de passagem, sempre disposto a regressar. Um regresso que a sua imaginação faz
possível quando se dispõe a escrever uma história
feliz quente um pouco imprevisível / evidentemente
de saudosas cores argentinas / placidamente linda / discretamente alegre que se constitui, ele confessa, uma forma de entrar no país, mais
precisamente, em Buenos Aires. Percorre a cidade no itinerário dos afetos,alegrando-se
ou se entristecendo até que, já meio tonto, se depara com o lugar / mais alegre risonho
esperançoso encantador ameno etc. que nenhum outro: o Rosedal essa ilhota incrível no meio do tormentoso Buenos Aires. O
Rosedal que vai descrever no seu traçado de flores que, verdadeiramente, o
enraízam nesse espaço entre as roseiras floridas e as glicínias e as coroas de
noiva e os jasmins e as begônias; e no seu mundo de lembranças que a fonte, o
lago, a pequena ponte dos namorados, as estátuas, as grandes árvores fazem
emergir: o menino de treze anos a devorar
a mais maravilhosa massa folhada / que faminto algum / tenha devorado na sua
vida / desde o começo dos tempos; o adolescente de quinze a agredir sua
tristeza pelas sendas com o livro de poemas sob o braço; o moço de dezoito, a
namorar num banco mal iluminado; o pai, com os filhos pequenos pedindo
guloseimas; o avô, enternecido, a tudo entender; o homem de setenta anos,
olhando a vida passar.
É um pedaço de jardim que testemunhou
o passar de sua vida e se desenha diante dos olhos da alma, luminoso, florido,
sombreado por araucárias, acácias e eucaliptos e faz de suas palavras - cores e sons e
perfumes - algo de perfeito para a
história que irá escrever: despreocupada
diáfana inocente /como aquele pedacinho de universo / limitado por um velho
poste iluminado / e um canteiro de coroa de noiva. Então,volta as suas
folhas em branco e à sua máquina de
escrever, deixa-se, outra vez, levar pela imaginação enquanto as teclas esperam.
Mas, desta vez, já não é o verde morno sussurrante oásis que vê mas um
cotidiano a transcorrer como que alheio às loucuras do Sistema.

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