É tida pela primeira
mulher espanhola a pisar em terras do Continente que mais tarde seriam do
Chile. E, embora, possam ter escutado o seu nome, muitos dos chilenos de hoje
não sabem, exatamente, de quem se trata. Para outros, conhecedores de algo ou de muito da História
de seu país, foi uma das grandes heroínas da Conquista. No entanto, não é muito
o que sobre ela é possível conhecer. Num
interessante artigo, publicado na revista Alpha (número 15, 1999) da
Universidade de los Lagos, Osorno, Chile, a professora Susan Stringer-Ó Keeffe,
retoma os documentos da época (ou posteriores) em que o seu nome aparece, assim
como a sua presença em textos ficcionais para delinear-lhe um perfil. A
primeira constatação que faz é de que houve uma tendência dos cronistas seus
contemporâneos de sobre ela silenciar: Inês Suárez, muitas vezes, foi eludida
dos documentos oficiais. Assim, Pedro de Valdívia, ao escrever para o Rei D.
Carlos V sobre o descobrimento do Chile, não lhe menciona o nome pois que dela
era amante e ele tinha esposa na Espanha. Na sua Historia de Chile, Cóngora Marmolejo, sem citá-la, a ela se refere
mas para condená-la por viver em mancebia. Também, outro historiador, Thayer
Ojeda, ao tratar da formação da sociedade chilena diz, somente que era esposa
de Rodrigo de Quiroga. Também, alguns historiadores estrangeiros lhe ignoram a
presença. Há, porém, os que lhe outorgam um papel importante na História do Chile. O próprio
Pedro de Valdívia, ao lhe conceder, em 1544, uma encomenda, fala de suas
destacadas ações e, alguns anos depois, o cronista Mariño de Lovera reafirma,
com Sor Imelda Cano Roldani, o heroísmo
de Inés Suárez. Paralelamente às obras históricas, a professora Susan
Stringer-O’Keeffe apresenta, também, o
gênero – e são vários textos – que mistura história e ficção, procurando
estabelecer discrepâncias entre a corrente histórica e a que chama
histórico-literária.
Evidentemente, muitos fatos – quando chegou Inés Suárez ao
Novo Mundo, seus motivos, em que circunstâncias conheceu Pedro de Valdívia –
permanecem sem resposta. Alguns dados são inegáveis: que partiu na expedição
para Cuzco, em janeiro de 1540, como criada e que pela sua atitude corajosa e
cristã vai adquirindo entre os soldados uma autoridade, cujas ordens tem a
certeza de que serão obedecidas. Outros, são devidos à imaginação do
romancista. Entre esses, se destaca Jorge Guzman que, em 1993, publica Ay Mama Inés onde Inés Suáez irá
aparecer, numa clara tentativa de humanizá-la, como um ser de carne e osso,
dominado por sentimentos e paixões. Já envelhecida, livre de uns e de outros,
vai refletir sobre a sua vida e sobre o que vê a seu redor: atrozes maldades.
Lamenta, então, que os seus sonhos e os de Pedro de Valdívia tenham ajudado a
reproduzir na América as iniquidades da Península Ibérica. E, então, em meio à verdades e à
invenções, emergem suas façanhas e suas virtudes. Porém é impossível não
aceitar que muito do que realizou ficou
no esquecimento porque era apenas mulher num mundo masculino e, sobretudo,
mulher que ao assumir um amor extra-conjugal estava fadada a ser vítima dos
preconceitos morais e sociais. E de um esquecimento que faz diluir-se o seu
verdadeiro papel na Conquista do Chile. Como também ocorreu com o de outras
mulheres, extraordinárias, cujos feitos foram ignorados e cujos nomes a
História não registrou.

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