defende
nosso amor, minha alma.
Eu
o entrego para ti como se deixasse
um punhado de terra com sementes.
Los
versos del capitán é um pequeno livro de poemas que veio à luz, em Nápoles,
no ano de 1952, numa edição artesanal de escassos exemplares, feita por um
amigo de Pablo Neruda e se inscreve, inteiro, no amor que o poeta dedicou a
Matilde Urrutia. Um sentimento que se expressa, entrelaçado a esse outro,
norteador de um viver comprometido com o homem do Continente, na linguagem que
lhe é tão própria, onde os elementos – água, vento, sol, chuva, flor, fruto –
oferecem um testemunho de vida que irá, freqüentemente, se enovelar, na palavra
terra.
Terra, querendo dizer distância,
querendo dizer imensidão. Terra, significando origem e destino, desejo de
chegada. Terra, lugar de abrigo onde recomeçar a vida; pátria, incitando à
luta. Alguma vez, ao redor dessa acepção, um pouco de mágoa se insinua: Minha luta é árdua e volto/ com os olhos cansados/ as vezes de ter visto / a
terra que não muda. Mas, também, por
vezes, a acompanha uma louca esperança: caminhando,
abrindo amplas estradas contra a sombra, fazendo / a terra suave, repartindo/ estrela para os que chegam. Inabalável
certeza deste ofício que o faz acreditar ser sua voz escutada nas margens de todas as terras e que se
mescla ao sentir de se saber mais próximo da terra, de se saber parte dela, de
percebê-la junto com a mulher amada. Assim, no poema “8 de septiembre”.
Inigualável canto ao ato amoroso. As palavras se acrescentam para delineá-lo,
mas é num pequeno verso hoje foi a terra
inteira” que está sintetizado o imenso da emoção.
E, perfeita e acabada expressão do
anseio telúrico, presente em todo o livro, o primeiro poema da quarta
parte. Nele se fundem a presença do
corpo feminino e os frutos e os aromas e toda uma gama de imagens se sucede
para dizer desse amálgama entre os amantes que o poeta canta e torna a cantar.
E a palavra terra desponta para marcar o tempo (por anos e por viagens, por
luas e sóis e terra e choro e chuva e alegria), para mostrar um renascer
que irrompe (como à terra seca a água traz
germinações que não conhecia), para exprimir uma identificação com a
amada, (torno a ser contigo a terra que tu es), identificação que estará na
origem de um como que esquecido emergir para a vida: torno a saber em ti como germino. Essa assunção de algo que é
próprio do vegetal, o germinar, deixa claramente perceber, ainda uma vez, a
relação de Pablo Neruda com a terra. Uma relação profunda e sem medida, feita
de nuanças – e as cinqüenta vezes que a palavra aparece nesse livro de poemas
são disso a prova - surpreendentes e
iluminadas, testemunhas de sua inconfundível maestria na arte de poetar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário