Em
1952, Les cahiers du Sud de Paris,
publicava uma narrativa de Carlos Droguett. Fora traduzida por Francis de
Miomandre, poeta e romancista francês, Prêmio Goncourt 1908 que, entusiasmado
com o escritor chileno, desejou fazê-lo conhecido na França. Agora, esse texto,
“Mort au crépuscule”, tornou a ser publicado no número 844-845 ( referente aos
meses de agosto/setembro deste ano de 1999) da revista Europe.

O
relato se inicia com uma breve frase: Um
morto sempre é pretexto para muitas coisas.
No caso, para o narrador falar do irmão que morreu e de episódios ocorridos na
infância a ele relacionados. Como é usual nos textos de Carlos Droguett, várias
seqüências se incorporam à linha principal do relato que vai, assim, se
construindo em meandros. Não poucas vezes, essas seqüências, ou algumas delas,
adquirem um significado maior que a própria ou aparente razão da narrativa. Em “Mort au crépuscule
, entre outras, é a lembrança de um momento de perdas. Cruéis como soem ser
aquelas sofridas na infância. O narrador se vê, ainda pequeno .Osuficiente para querer muito uma
das maçãs que o pai trouxera ao voltar
para casa, ao anoitecer. Uma pequena maçã de cores delicadas. Ele a deseja para
levá-la para o quarto e poder olhar para ela, da cama, porque lhe parece terno, adormecer olhando-a
à luz da lâmpada. Quando estende a mão para pegá-la, o irmão com a brutalidade de seus olhos azuis, de
seus cabelos loiros bate a compoteira no mármore da mesa e grita para a
mãe: Mamãe, o Carlos quebrou a compoteira.
O narrador diz não ter escutado o golpe mas sim, ter visto se espalharem os
pedaços : ficarem separados para sempre, como uma desgraça
muito grande, como alguma coisa que não se pode reparar e que se enxerga com facilidade, que se compreende muito bem.
Principalmente, pela primeira vez,
percebeu os traços do irmão, sua grande boca, seu nariz fino, seu rosto
pálido, para se dar conta que começara a odiá-lo e que esses cacos de vidro que
podia tocar e deles sentir a frieza eram a maldade humana.
Retoma,
então o relato para dizer que é a única recordação que tem de seu irmão, para
contar de um sonho ou alucinação que o invade, para esboçar, muito brevemente,
a presença de uma palmeira perto do muro e da mãe que reza junto às amigas, da
lua, amarela, que surge. E conclui,
repetindo quase a mesma frase que introduz a narrativa, (ele morreu às seis horas e um quarto
da tarde. Eu me lembro que o pai tirou do relógio para o anunciar.) numa
estrutura circular e fechada, o que o
título anunciara. Na verdade, talvez
seja essa morte o menos importante na sucessão de ausências onde a maçã
– ainda uma vez, objeto de desejo – está na origem da perda maior, irreversível
e perversa: a perda da inocência. Porque o pequeno Carlos ao se dar conta, ao
descobrir que esses pedaços de vidro quase opacos eram a maldade humana
jamais será o mesmo.
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