Ela
dizia ter nascido na Venezuela. No entanto, o inegável é conhecido: veio ao
mundo em 5 de outubro de 1889, no número 75 da avenida Wagram, em Paris. E, foi aí que viveu até os dois anos
quando voltou ao país de seus pais para morar numa propriedade rural, perto de
Caracas. Tinha oito anos quando lhe morre o pai. Com seis filhos pequenos, a
mãe procura apoio na sua família e parte
para a Espanha onde Teresa de la Parra permanece até os dezoito anos num
colégio de freiras. Então, volta para a Venezuela e passa a levar uma vida
mundana, rica em festas e reuniões sociais que, em breve, a levam a buscar
evasão na leitura isto é, alimentar-se da literatura francesa que invade o
Continente de títulos, muitas
vezes, assinados por autores que o juízo
do tempo fez esquecer. E’ nessa época que
aparecem seus primeiros trabalhos
em revistas e jornais de Caracas. Já havia publicado Ifigenia que recebe, em
Paris no ano de 1925, o prêmio de melhor romance quando, em La Habana, faz a
sua primeira conferência cujo tema foi “La influencia oculta de la mujeres en
la Independência del Continente y en la vida de Bolívar”. Três anos depois, na
Colômbia, discorre sobre o tema
“Influencia de las mujeres en la formación del alma americana”.
Nelson
Osorio que no seu trabalho “Contextualización y lectura crítica de Las memorias de Mamá Blanca” faz uma aproximação desse segundo romance
de Teresa de la Parra com as conferências proferidas, transcrevendo, delas, alguns textos que a
mostram como uma intelectual
conservadora, absolutamente incapaz de entender o processo histórico do
Continente. Daí, o ter podido ela afirmar, terem sido os três séculos
compreendidos entre o momento da Conquista e aquele da Independência, um período
de fusão e de amor no qual impera um regime de feminismo sentimental à moda
antiga”. Ou, ainda, que nessa época, a mulher reinava sem crônicas nem cronistas - não
deixando por isso nem rastros, nem arquivos, nem cartas, nem livros
- porque a tranqüilidade de seu viver a acostumou ao silêncio, seu ritmo suave e
monótono de viver só chegou até nós cheio de encanto por meio da tradição oral.
Esse
receber como verdade aquilo que lhe agradava ou convinha – acredito que as pessoas da Colônia eram muito felizes, tinham a dourada
mediocridade e não os atormentava o desejo de mando nem o de milhões. Com o céu
sempre azul e a segurança de Deus
ocupando-se sempre deles, que vida mais agradável poderia ser? diz em carta
a um amigo – a impede de perceber os agravos a que seu povo era submetido sob a
ditadura de Juan Vicente Gomez que se manteve no poder de dezembro de 1908 a
dezembro de 1935. Teresa de la Parra que dele se considerava uma amiga, sempre
o defendeu elogiando o seu governo com inegável convicção: Há magníficas estradas, paz, segurança individual [..]). Um poderoso
ar de progresso, de prosperidade, de riqueza impulsiona, hoje, a Venezuela.
Quando
o ditador caiu, logo depois, no seu Diario,
data do de 13 de janeiro de 1936, Teresa de la Parra escreveria: Se o governo da Venezuela chegar a se
constituir de forma decente e legal, me sentiria encantada, embora me prejudicasse a nível
pessoal ao perder a pensão.
Parece
inegável, portanto, que antes de mais nada, ela antepôs, sempre, a defesa de
seu status pessoal. Impedindo-se ,
assim, de opinar, de julgar, de perceber, ela se volta para um passado que
idealiza e no seu romance Memorias de Mamá Blanca cria um mundo idílico e idealizado, fictício que pode
ser entendido – e algum crítico o fez – como recusa de um presente degradado.
Ou, como um refúgio que embora cative o leitor e lhe proporcione esse prazer
tão próprio dos belos textos, não lhe permite esquecer que o Continente é feito
de contornos menos luminosos e inocentes e com
muita frequência, manchado pelo opróbrio das injustiças sociais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário