Acaba
de morrer no dia 20 deste mês, em Coyoacan, o mexicano Octavio Paz. Detentor
dos mais importantes prêmios literários, inclusive o Nobel de 1990, é autor de
“Piedra del sol”, considerado um dos poemas chaves da lírica latino-americana
atual. Publicou La libertad bajo
palabra, Salamandra, Ladera triste, Topoemas, Discos visuales, livros de
poemas aos quais se acrescenta uma imensa e profunda obra ensaística o que o
torna um autor incomum no Continente.
E,
no Continente, foi uma figura de intelectual de raro e abrangente valor cuja
atitude crítica, contida na sua poesia e nos seus ensaios, se alimenta de uma
ímpar pluralidade de experiências: escritos aos quatorze anos, viagens, aulas
em universidades norte-americanas e européias, criação e direção de revistas,
traduções, o levaram a ser um escritor
definido por Carlos Fuentes como peregrino
das civilizações. Octavio Paz volta-se para autores da França, Inglaterra,
Estados Unidos, Itália, Japão, Índia, Portugal sem se afastar daqueles
latino-americanos e dos conflitos em que se submerge o seu Continente. Como
exemplo disso, o ensaio “Conquista e colonia”, publicado em 1971, pela Alianza Editorial de Madrid em Los signos en rotación y otros ensayos. Nele, busca a explicação
para essa espécie de mistério que foi o aniquilamento dos povos primitivos do
México pela dominação espanhola.
Analisa
os antecedentes – esse Estado teocrático e militar, impregnado de religião que
existia antes da chegada dos espanhóis, essa rivalidade pulsando entre os
diferentes povos pré-colombianos, essa atração de Montezuma que o leva a
receber Hernán Cortéz em vez de repudiá-lo – e
refaz o caminho de dúvida e desamparo em que tombaram os ameríndios, o
caminho de contradições que percorriam os espanhóis, presos, ainda, entre o
Medievo e o Renascimento. E, chega a uma síntese singular ao afirmar que, seja
a partir da perspectiva indígena, seja a
partir da perspectiva espanhola, a Conquista se constituiu a expressão de uma
vontade unitária. Daí resulta uma clara apologia dos ditames ibéricos
principalmente quando diz que o espanhol não negou um espaço na sociedade ao
indígena batizado, o que não ocorreu com os anglo-saxões na América do Norte
ainda que reconheça que eles jamais
deixaram de se basear numa ordem imposta: ou social ou econômica ou jurídica ou
religiosa. E ninguém ignora quanto a tais ditames foram os indígenas submetidos e submetidos a
ferro e a fogo, levados à destruição. Verdades que o brilhante e belo texto de
Octavio Paz, ainda que colmado de argumentos e razões, não consegue fazer
esquecer e fazer aceitar como vontade
unitária da conquista o que foi, antes de mais nada, injustiça, crueldade e
despotismo.

Nenhum comentário:
Postar um comentário