São
dezoito contos e um mais bonito, mais perfeito que o outro. “Don Brón” é um
dele Don Brón é o
latifundiário que, da imensidão de suas terras e das parcas e pobres casas do
povoado, é senhor. Nesse conto é de sua morte que se trata.
Ele
morreu num domingo de manhã. Ou pelos anos, ou pelos remorsos. Dúvida não
elucidada mas que delineia o personagem: velho e mau. Delineado, também, pelo
que ocorre, então,no mundo em que vivia: o padre, pondo papel crepom nos santos
da igreja em sinal de luto; os milicos, dando ordens à multidão disposta para o
enterro; a arrogância da família ao mandar que todos se retirassem; a vaidade,
ordenando que o defunto fosse embalsamado e fotografado.
Completando
o quadro, a voz do narrador – compenetrada, séria, ingênua – vindo de alguém
que, de repente, diz nós, numa
informação que o situa ao lado dos que observam o drama mas dele não fazem
parte. Um drama que se apresenta em três tempos: primeiro, o velório com os
recém chegados da capital, a viúva, os filhos, as seis velas, um defunto
magrela e branco, de uniforme e medalhas. É quando os filhos interrompem o
ritual de choros e visitas para trazer da Europa quem o embalsamasse. Depois de
um mês, tudo recomeça: o desfile dos peões, prestando homenagem, os pêsames. É
o segundo tempo, antecedendo o terceiro em que Don Brón vai ficando cada vez
menor, aos poucos, até virar uma penugem no ar.
Nesses
três tempos, se acrescentando o fantástico ao real, a transformação do
embalsamado em uma quase ilusória penugem. O inegável mundo dos homens,
dividido entre os humildes e os ricos e prepotentes.
No
todo, a troça. Desde a definição do ritual do velório, hesitante, entre duas
crenças, a persuasão dos milicos, aconselhando respeito por não se tratar de
uma festa, a religiosidade estapafúrdia das velhas beatas, a venda de boinas e
chapéus na porteira da fazenda e, finalmente, a “tragédia” com o defunto
encolhendo. Troça que se intensifica com o tom. O narrado parece se sustentar
na verossimilhança, como se fosse natural esse transformar-se um defunto em
penugem.
Na
verdade, muitas coisas acontecem em Cuatrocasas, pequena cidade sumida entre
dois latifúndios e pagando a eles um preço que os mandos e desmandos estipulam.
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