Francisco
Abiaru, náufrago de uma pirágua, é salvo das
águas do Rio da Prata por um
navio português. Içado por uma corda, agarrado ao Cristo de madeira que
esculpira nas Missões é, semi-desfalecido, largado no tombadilho do navio.
Aí
tem início o caminho de seus dias futuros. Por ser índio missioneiro, por ter o
seu Cristo os olhos amendoados é preso e, assim, segue para o Rio de Janeiro
onde nos cárceres da Inquisição deverá responder por heresia.
É
o que irá contar Luiz Antonio de Assis Brasil no seu Breviário das terras do Brasil:
uma aventura nos tempos da Inquisição, publicado pela L& PM de Porto
Alegre, no fim do ano passado.
O
drama de Francisco Abiaru na prisão, se entrelaça com o do Padre Vasco Antonio da Costa, da Rainha
Hécuba, do Mestre Domingos, do holandês voador, com o do Vigário Geral. Todos
eles se enleando nas tramas que leis ditadas por vontades esdrúxulas instituíam
nesse século XVII ainda sob a Jurisdição da Inquisição. Sobre tudo, o medo
reina entre eles e cada um a seu modo ou a ele se submete ou busca uma salvação
para fugir das ordens que atravessaram o Atlântico para se instalar no
Brasil-colônia.
No
romance de Assis Brasil, elas se mostram como que menos cruéis, como que menos
severas na convivência com as cores e com as luzes. A figura do índio guarani,
os tons exuberantes e os perfumes da natureza tropical diluem os horrores da
prisão e dos rituais que aparecem como
se mais do que ditos fossem insinuados.
Os próprios inquisidores se suavizam, as penas se reduzem e ao holandês
voador, como ao índio é oferecida a salvação. Eles se lançam ao espaço numa nave artesanal de fazendas
coloridas que se afasta dos seus juízes em graciosas evoluções.
Nesse dia,
que seria o dos castigos, a baía da Guanabara refulgia de águas belíssimas.
A vista alcançando a imensidão do mar e a
grandeza do céu, dissolvendo-se toda a paisagem numa largueza onde se
desconhecem os limites entre a terra, a água e o ar.
A
ficção permitiu o belo e o alentador de uma nave - algo prenhe de loucas
esperanças – a voar para o seu destino. Assim finaliza Breviário das terras do Brasil;
uma aventura nos tempos da Inquisição.
Para trás, no silêncio dos Arquivos, ainda por se conhecer, os turvos, os
funestos, os sombrios meandros da Inquisição no Brasil.
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