Como
autores, aparecem os nomes de Mara La Madrid e Juan Gelman. Ela, psicanalista e
coordenadora de atividades relacionadas com organismos de direitos humanos;
ele, um dos mais importantes poetas latino-americanos de hoje. Ambos, por
razões políticas, saíram da Argentina, na década de 70 e vivem, atualmente, no
México. As vozes que fazem o livro Ni el
flaco perdón de Dios. Hijos de desaparecidos (Buenos Aires, Planeta, 1997),
no entanto, são muitas. Ou de um escritor, um jornalista, uma advogada, um
psicanalista, uma historiadora da educação; ou, de pessoas ligadas a entidades
como a Asociación de Ex Detenidos Desaparecidos, Madres de la Plaza de Mayo,
Instituto de Estudios y Acción Social, Centro de Estudios Legales y Sociales,
Comisión Nacional por el Derecho a la Identidad, Abuelas de la Plaza de Mayo.
Principamente, são as vozes de jovens que perderam seus pais na guerra suja em que, durante tantos anos,
esteve mergulhada a Argentina.
Daqueles
que hoje trabalham na investigação do que, então, acontecia, daqueles que hoje
querem impedir que tudo caia no olvido é a voz que registra, que discute.
Espontânea, embargada, a dos filhos ao narrar uma experiência de vida que mais
do que à realidade histórica dos fatos parece pertencer a uma diabólica ficção.
São
jovens que ou não conheceram seus pais ou que mal os conheceram ou que deles
foram privados, sendo, ainda, muito crianças ou adolescentes porque os pais
desapareceram, vítimas da repressão.
Recolhidos
por parentes, em geral pelos avós, foram criados como órfãos de pais sem
sepultura e rodeados de um silêncio prolongado até que se formou “Hijos”,
grupos de filhos de desaparecidos que se reúnem para falar, procurar, saber.
Para, mutuamente, tentar se ajudar.
Então,
para eles, pela primeira vez, há uma possibilidade de expressão e o que fora
calado pode ser dito. E o que pode ser dito significa perguntar, nessa ânsia de
querer saber quem foram, verdadeiramente, esses pais quase desconhecidos e o
que lhes aconteceu.
Rompem,
assim, o silêncio que imperou durante muito tempo porque a família tinha medo,
ainda, da repressão, tinha medo do sofrimento que a verdade – os pais
torturados, os pais assassinados na cadeia – poderia causar.
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