Em
outubro de 1993, Maruja Pachón propôs a Gabriel García Márquez que escrevesse
um livro sobre a sua experiência de seis meses como seqüestrada do narcotráfico
e das diligências de seu marido para libertá-la. Ponto de partida de um livro
que, no dizer do escritor colombiano, foi o mais difícil e triste de sua vida,
uma história real contada pelos protagonistas que viveram o drama.
O
livro se inicia com o seqüestro de Maruja Pachón às sete e cinco da tarde numa
Bogotá de céu turvo e triste. Mas, Gabriel García Márquez não irá contar
somente o que a ela aconteceu a partir desse momento até aquele em que foi
libertada, conforme seus relatos, mas, também, o que conseguiu saber dos outros
nove que, igualmente, foram seqüestrados na época.
Assim,
no livro se entremeiam os textos que narram o que foi para Maruja Pachón e suas
companheiras, Marina Montoya e Beatriz Villamizar de Guerrero, o cativeiro e os
que tratam das negociações para conseguir-lhes a liberdade.
Gabriel
García Márquez não se permite recursos de estilo e busca, apenas, a
objetividade de um texto cuja proposta é a informação.
Porém,
para falar da situação de um país que somente se deu conta de sua importância
no tráfico mundial de drogas quando os traficantes
irromperam na ala política do país pela porta as fundos, primeiro com seu
crescente poder de corrupção e depois com aspirações próprias foi necessário possuir uma gama de dados tão
grande como aquela imprescindível para tratar do motivo principal da guerra
iniciada pelos narcotraficantes: o terror diante da possibilidade de ser
extraditado aos Estados Unidos onde poderiam ser julgados por delitos ali
cometidos e, então, passíveis de sofrer
penas muito grandes.
Assim,
na sua grande maioria, o texto de Noticias
de un secuestro registra o longo itinerário que persegue não apenas uma
solução satisfatória para a libertação dos reféns mas, também, aquela que
atenda as pretensões dos narcotraficantes.
Breves
tréguas, o perfil que o romancista traça de Rafael Pardo, designado pelo
Presidente da Colômbia para ser o mediador entre o governo e a família dos
reféns ou o de Marina Montoya que, depois de meses de cativeiro, foi condenada
à morte. Tanto o seu estar na prisão como os últimos momentos em que nela passa
são de uma grande dramaticidade, cujos tons se reforçam diante da
impossibilidade de saber se teve ou não consciência de estar sendo conduzida a
seu fim ou se morreu acreditando que a agraciavam com a liberdade.
No
texto que antecede Noticias de un
secuestro, Gabriel García Márquez agradece aqueles que, de alguma forma, o
ajudaram a realizar a obra e expressa a esperança de que nunca mais suceda o
que foi motivo de seu livro. Mas,
qualquer que tenha sido a sua intenção, ao escrever a obra, não foi julgado
inocente pelos narcotraficantes. Cada vez que vai a Colômbia, três
guarda-costas vigiam pela sua segurança.
Parece
que, ao dizer que o grande risco na
América Latina é estar vivo, ele sabe do que está falando. E quem toma
conhecimento da sua frase e não ignora o que ocorre no cotidiano do Continente,
não pode, tampouco, dela discordar.

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