Em 1981, a Editorial Alianza de Madrid
publicou Pasado amor. Cinqüenta e
dois anos se haviam passado dessa primeira edição de 1929 que, segundo Emir
Rodríguez Monegal, foi recebida friamente pela crítica da qual somente um nome
importante, Martínez Estrada, se mostrou capaz de descobrir-lhe virtudes e,
ainda assim, com um elogio mais do que
ambíguo. O autor de El desterrado: vida y obra de Horacio Quiroga, diz que esse romance
é uma obra por fazer, um dos maiores equívocos de Horacio Quiroga, escrita para
dar razão a seus mais severos críticos.
Com
o respeito que merece Emir Rodríguez Monegal, como crítico e biógrafo de
Horacio Quiroga, é possível, no entanto, considerar, primeiramente, que sempre
é um mistério a fortuna, o destino –
no sentido que lhe dá a Literatura Comparada – de uma obra e, logo, que uma
indiferença da crítica ou um fracasso de venda não são razões definitivas para
mensurar-lhe o valor ou a importância.
Além
disso, uma aproximação a qualquer obra pode ou deve ser feita, ou ainda, também
ser feita, a partir do texto como ele se apresenta e resultar, na sua proposta,
válida. Discutível, é partir de suposições sobre o que o autor teria podido ou
teria querido fazer.
Então,
é oportuno lembrar as palavras de Susana Soca, quando se refere à Maria Eugenia
Vaz Ferreira, a grande poetisa uruguaia: Nunca
iremos saber o que desejou dizer, somente
sabemos o que disse.
E
o que disse Horacio Quiroga, em Pasado amor, está cheio de achados narrativos. As zonas de sombra, por
exemplo, em que o narrador sabe menos do
que o personagem e deixa, igualmente, o leitor na ignorância do que sucede,
levando-o a inúmeras suposições. Ou os indícios que, sutilmente inseridos na
narrativa, conduzem a situações conflituosas que logo se revelam claras pelo
que já fora anunciado.
Na
verdade, uma aproximação a Pasado amor permite
perceber que somente alguns traços desenham o espaço, que o tempo, ainda que
bem marcado, termina por se perder, que os personagens são como silhuetas
apenas entrevistas, que a narrativa hesita entre o dizer e o não dizer. Razões
que, sem dúvida, permitem recordar a Emir Rodríguez Monegal quando diz que Pasado amor oferece apenas um esboço e
que o livro não é mais do que isso.
No
entanto, também é inegável que, naquilo que o romance tem de difuso, de breve,
de fugidio, se encontram esses indícios e essas zonas de sombra e esses jogos
de informação no narrar que permitem a Pasado
amor se sobrepor a esse destino de sua primeira edição e respectivas
críticas. E ser merecedor de estudos mais profundos e livres de preconceitos e
das certezas do já dito.

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