domingo, 18 de janeiro de 1998

Maria Eugenia

          Foi poetisa de um livro só: La isla de los cánticos, publicado após sua morte, ocorrida no dia 20 de maio de 1924. Tinha quarenta e oito anos e na sua biografia rareiam as felicidades. Porque lhe foi proibido poetar e, então, pouco lhe restou. Muitas vezes, escondia seus versos para que não fossem destruídos pela mãe, convencida de que se tratava de uma atividade malsã, daninha para a mulher. Mais tarde, o irmão, cioso de sua figura de homem público, igualmente, quis cercear-lhe a liberdade.

           Então, Maria Eugenia Vaz Ferreira se afastou da trilha convencional. Na realidade, muito pouco: enfrentar os costumes da época, entrando num bar humilde para tomar, no balcão, uma bebida; ter coragem para se meter num bonde, sozinha, ir até o fim da linha e voltar. Ou, se apresentar num baile, usando um sapato branco e um sapato preto porque as pessoas não são como passarinhos que movem os dois pés ao mesmo tempo. E isto, numa época em que as mulheres não saiam sem chapéu e sem acompanhantes.

           O desacerto  entre o que se esperava dela e o que se constituía a sua vontade fez-lhe muito mal. Diz Rosario Peyrou, ao escrever sobre ela em Mujeres uruguayas. El lado femenino de nuestra historia (Montevideo, Alfaguara, 1997): teve medo de viver, de alienar sua liberdade e ficou à margem, vendo passar a vida. Tornou-se excêntrica e sozinha e, assim, na solidão ela criou longe dos grupos literários em que se congregavam os homens e dos quais, ela como mulher, não podia participar. Primeiro, poemas românticos em que cantou seus sentimentos e desejos e angústias com uma sinceridade sem peias. Logo, sob a influência do  Modernismo, versos mais elaborados, de metálica sonoridade e ritmo vibrante. Já no fim da vida, mais simples, mais intensos, seus melhores poemas.

            Sabendo-se diferente dentre os que a rodeavam, acentuou o seu isolamento e se refugiou na poesia, sentindo-a como um destino que assume na ilusão de dar um sentido à vida.

            Com seus versos abriu caminhos para os que vieram depois. O seu, foi árduo  e triste. No último poema de seu livro diz: Quem não sabe estar alegre/ não tem porque cantar./ Se derrotou-se a si mesmo/ o que ensinará?


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