Então,
Maria Eugenia Vaz Ferreira se afastou da trilha convencional. Na realidade,
muito pouco: enfrentar os costumes da época, entrando num bar humilde para tomar,
no balcão, uma bebida; ter coragem para se meter num bonde, sozinha, ir até o
fim da linha e voltar. Ou, se apresentar num baile, usando um sapato branco e
um sapato preto porque as pessoas não são
como passarinhos que movem os dois pés ao
mesmo tempo. E isto, numa época em que as mulheres não saiam sem chapéu e
sem acompanhantes.
O
desacerto entre o que se esperava dela e
o que se constituía a sua vontade fez-lhe muito mal. Diz Rosario Peyrou, ao
escrever sobre ela em Mujeres uruguayas.
El lado femenino de nuestra historia (Montevideo, Alfaguara, 1997): teve medo de viver, de alienar sua liberdade
e ficou à margem, vendo passar a vida. Tornou-se excêntrica e sozinha e,
assim, na solidão ela criou longe dos grupos literários em que se congregavam
os homens e dos quais, ela como mulher, não podia participar. Primeiro, poemas
românticos em que cantou seus sentimentos e desejos e angústias com uma
sinceridade sem peias. Logo, sob a influência do Modernismo, versos mais elaborados, de metálica sonoridade e ritmo vibrante.
Já no fim da vida, mais simples, mais intensos, seus melhores poemas.
Sabendo-se
diferente dentre os que a rodeavam, acentuou o seu isolamento e se refugiou na
poesia, sentindo-a como um destino que assume na ilusão de dar um sentido à
vida.
Com seus
versos abriu caminhos para os que vieram depois. O seu, foi árduo e triste. No último poema de seu livro diz: Quem não sabe estar alegre/ não tem porque
cantar./ Se derrotou-se a si mesmo/ o que ensinará?
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