Acaba
de ser lançado, em Montevidéu, pela Alfaguara, Mujeres uruguayas: el lado femenino
de nuestra historia, no qual estão reunidos onze trabalhos, cada um de uma
autora, versando sobre mulheres. Mulheres
que pintam, mulheres que agem, mulheres que dançam, mulheres que mandam, que
conspiram, que amam... que sonham... que escandalizam....
Entre
elas, Rosa Luna. Assinado por Adela Dubra, o texto que lhe é dedicado está
construído em duas partes: primeiro, uma compilação de trechos de entrevistas
e, logo, aquele em que a autora narra a sua morte, em Toronto, no inverno de
1993 e a chegada de seu corpo em Montevidéu, numa tarde de garoa, esperada por
uma enorme multidão que fora prestar homenagem àquela que, pelo seu talento,
conquistara admirações por ter sido a maior vedete do Carnaval: mulher que não tinha sido especialmente
bonita, que foi prostituta e matou um homem, uns peitos enormes, inverossímeis
e uma boca cheia de dentes.
Morta
na força da idade e longe de seu país, mereceu um longo e lento e triste
cortejo, mereceu discursos à beira do túmulo, minutos de silencio no Parlamento
e antes da partida de futebol de seu time. Nos necrológios emergiram os
epítetos que havia recebido nos vários anos de Carnaval: Rainha Luna, Vedete do
asfalto, Rainha africana, Mito vivo, Alma do Carnaval, Eva de ébano, Rito
pagão, Rainha noturna, Vênus de ébano, Deusa africana, Rosa do povo.
Este
último, talvez, o verdadeiro porque nasceu
pobre, negra, filha natural e grandona e sua vida, como a do povo, não
foi um mar de rosas.
De
sua infância não desejou falar para não dizer tristezas: ver a mãe inclinada
sobre uma tábua, lavando roupa; ver-se a si mesma, empregada, numa casa, aos
nove anos. De suas vitórias, sim. Ser a figura principal de um bloco
carnavalesco e, por isso premiada mais de vinte vezes, fazer tournées pelos
Estados Unidos, Europa, Austrália, América do Sul.
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