domingo, 11 de janeiro de 1998

Rosa Luna

           Acaba de ser lançado, em Montevidéu, pela Alfaguara, Mujeres uruguayas: el lado femenino de nuestra historia, no qual estão reunidos onze trabalhos, cada um de uma autora, versando sobre mulheres. Mulheres que pintam, mulheres que agem, mulheres que dançam, mulheres que mandam, que conspiram, que amam... que sonham... que escandalizam....

           Entre elas, Rosa Luna. Assinado por Adela Dubra, o texto que lhe é dedicado está construído em duas partes: primeiro, uma compilação de trechos de entrevistas e, logo, aquele em que a autora narra a sua morte, em Toronto, no inverno de 1993 e a chegada de seu corpo em Montevidéu, numa tarde de garoa, esperada por uma enorme multidão que fora prestar homenagem àquela que, pelo seu talento, conquistara admirações por ter sido a maior vedete do Carnaval: mulher que não tinha sido especialmente bonita, que foi prostituta e matou um homem, uns peitos enormes, inverossímeis e uma boca cheia de dentes.

             Morta na força da idade e longe de seu país, mereceu um longo e lento e triste cortejo, mereceu discursos à beira do túmulo, minutos de silencio no Parlamento e antes da partida de futebol de seu time. Nos necrológios emergiram os epítetos que havia recebido nos vários anos de Carnaval: Rainha Luna, Vedete do asfalto, Rainha africana, Mito vivo, Alma do Carnaval, Eva de ébano, Rito pagão, Rainha noturna, Vênus de ébano, Deusa africana, Rosa do povo.

              Este último, talvez, o verdadeiro porque nasceu pobre, negra, filha natural e grandona e sua vida, como a do povo, não foi um mar de rosas.

              De sua infância não desejou falar para não dizer tristezas: ver a mãe inclinada sobre uma tábua, lavando roupa; ver-se a si mesma, empregada, numa casa, aos nove anos. De suas vitórias, sim. Ser a figura principal de um bloco carnavalesco e, por isso premiada mais de vinte vezes, fazer tournées pelos Estados Unidos, Europa, Austrália, América do Sul.

              Rosa Luna, que escreveu letras de música, quis ser, um dia, goleira e manteve, durante dois anos, uma coluna semanal no jornal La república onde dizia o que faria se fosse Presidente, onde lembrava coisas de sua vida noturna, onde abordava o problema dos negros e se indignava com as injustiças sociais. Porém, mais do que nada, dançou nos Carnavais.

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