Não
é um mundo de mudos o que concede a poucos eleitos o privilégio da palavra?
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Não há estruturas de poder que convertem em privilégio de poucos o que
deveria ser um direito de todos?
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Tem sentido escrever na América Latina? Desde quando os analfabetos
lêem? E os mortos de fome, desde quando compram livros?
Eduardo Galeano
Eduardo Galeano
Cada
uma delas tem um título que as resume e, entre eles, os que se constituem indiscutíveis
ou instigantes assertivas: A palavra
nunca é neutra, A palavra se realiza no leitor, Para poder falar há que saber ouvir, A
Literatura pode abrir novos espaços de criação, comunicação e mudança.
Completam a página, repetida três vezes, uma foto de Pablo Neruda porque é a
respeito dele e de sua obra que fala Eduardo Galeano.
Talvez
tudo o que diga já seja conhecido – poucos poetas se comprometeram tanto com
seu povo e com os pobres do mundo; poucos poemas tiveram a acolhida que receberam
os seus – mas a calorosa admiração que põe em suas palavras e as reflexões que
a elas se mesclam sobre o trabalho do escritor fazem desses breves textos uma
expressão de simplíssima verdade ou de estimuladores preceitos.
Eduardo
Galeano não desdenha perguntas: Que poder
de transformação da realidade pode ter uma palavra que não começa por
transformar, nem que seja um pouco,
quem a lê?, Existe algum tema que não
seja político?, Não é um mundo de mudos o que concede a poucos eleitos o
privilégio da palavra?. Tampouco economiza asserções: A palavra, ferramenta que o escritor afia cada dia, não seria mais
que uma garatuja ou ruído inútil, se não servisse como instrumento de diálogo,
Quando a palavra coincide com uma
necessidade coletiva, torna-se de todos.
E a
lembrança de Pablo Neruda e o voltar-se sobre si mesmo o levam a pensar nesse
ofício de escrever que, no Continente, pode ser um ofício de solidão. Porque a
palavra escrita é de antemão censurada pela estrutura social que impede a
existência de leitores e pelo monopólio dos meios de comunicação exercido pelas
grandes máquinas do poder.
Fonte
de desalento para alguns, alimento de arrogância para outros é uma solidão
vencida, segundo Eduardo Galeano, por aquele que acredita ser o escrever um ato de solidariedade humana.
Para
o escritor uruguaio, autor de Las venas
abiertas de paciência. Daí o poder dizer: De gotas se faz o oceano.
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