Teorias
complicadas e nomenclatura específica (evidentemente, alienígenas) existem
muitas para explicar o que alguém, de maneira simples disse com modéstia: o
assunto é o que se diz; tema, o que se quer dizer.Breve reflexão, a propósito
dos contos de Lima Barreto que o Pólo Editorial do Paraná acaba de publicar, O homem que sabia javanês e outros contos.
No
volume, dezessete relatos, cada um linear, coloquial, cotidiano, aparentemente
despretensioso: Castelo, narrando como se tornou professor de javanês; o
funcionário público, contando de seus pobres dias; o Cazuza, lembrando sua
infantil tragédia; Zilda, se entediando na recente vida de casada.
Nas
entrelinhas, observações. Sagazes, irônicas, trocistas, por vezes, mordazes.
E motivos parecem não faltar: é o ministro de Estado
a dizer o senhor não deve ir para a
diplomacia, o seu físico não se
presta...; são os congressos científicos onde pode acontecer que uma fama
fabricada crie reputação de profunda e indiscutível sapiência; são as listas
das inexplicáveis benesses usufruídas por funcionários públicos; são pretensos
escritores, anunciando livros que jamais conseguirão escrever. Mediocridades
que se exibem, refletindo uma sociedade preconceituosa, interesseira e
hipócrita.Quando seus defeitos se tornam maiores, Lima Barreto fala de outras
terras, como no relato “O falso Dom Henrique V” ou “Eficiência militar” em que
a ação se passa na República de Bruzundanga – tantas politiquices e traições e
violências – e no Império da China. Lá, o vice-rei de Catão se preocupava com
seu exército que não possuía nem garbo
marcial, nem aptidões guerreiras.
Ter-lhe mudado a ração e tê-lo feito praticar nas manobras gerais, na época das
cerejeiras em flor, não foram suficientes para melhoras. De seu desagrado,
falou ao general do exército que, então, explicou serem os defeitos fáceis de
remediar: suficiente apenas, mudar o uniforme que usavam, parecido com os do
exército alemão, para um que fosse imitação do francês. Ou fala do paraíso,
onde a alma de um justo que mereceria assentar-se
à direita do Eterno e lá ficar, per
secula seculorum, gozando a glória perene, é mandada para o purgatório
por ser a alma de um negro. Embora ele tenha sido Bom como São Francisco de Assis, virtuoso como São Bernardo e meigo
como o próprio Cristo.
Talvez
ingênuas, no que possuem de caricatural e de risível, as histórias de Lima
Barreto vão se fazendo na simplicidade das pequenas vidas e dos breves
episódios que se entrelaçam a esse querer mostrar o quê era falso, artificial e
deformante na sociedade brasileira dos inícios do século.
Assunto
e tema que nem sempre foram do agrado – haja visto as críticas e os desprezos –
dos que se acreditam bem pensantes no país.

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