Marilyn
Bobes nasceu em 1955 em La Habana. Licenciou-se em História, trabalhou como
jornalista e, em 1979, recebeu o prêmio David, de poesia, por seu livro La aguja en el pajar. Como narradora,
recebeu o Prêmio Admundo Valdés do México, em 1993 e, em 1995, o Prêmio Casa de
las Américas.Alguien tiene que llorar
é o título desse livro premiado em La Habana, uma coleção de sete contos cujo
tema é a mulher incompreendida e sozinha, os olhos sempre postos no amor.
E
assim é para Iluminada Peña, do conto “Preguntáselo a Dios”. O amor que sente
por Bebo é apenas sugerido no texto. E ela se casa com Jacques Dupuis.O relato
se faz em dois níveis: um narrador, em terceira pessoa; outro, em primeira. Em
terceira pessoa é contado como foi seu encontro com o francês, o estado de
espírito em que se encontrava por ser desprezada por Bebo, o namoro com o estrangeiro
que, findas as suas férias em Cuba, a pede em casamento e a leva para a França,
a sua tristeza quando volta de visita a
La Habana.Nas cartas que escreve a sua amiga, expõe as agruras de quem vive em
terra alheia, entre desconhecidos.
São
treze textos curtos, numerados e grafados diferentemente. Ainda que, em cada um
haja um tom próprio que os distingue, eles se completam no desenho da mulher e
nos contornos dos espaços em que ela vive.Assim, o narrador fala de sua pele
cobriça, de seu “torso esbelto”, seus “quadris maciços”, suas “extremidades bem
torneadas”. Numa de suas cartas, Iluminada já agora Dupuis, comenta que o
marido deseja que ela emagreça. O narrador menciona suas tristezas de olhos
chorosos e sorriso melancólico e ela, ao escrever para a amiga, confessa seu
desespero nessa Toulouse que, de algum modo, a rejeita.
A
cidade de La Habana, porém, se mostra somente a partir das palavras do narrador
que se refere a existência de contrabandistas, à constância dos racionamentos
de luz, à falta de comida.Nas palavras de Iluminada, apenas esse dizer que a situação delas é muito pior referindo-se as tristezas que deve suportar. Delas significa a mãe e a avó para quem ela manda dinheiro para a
sobrevivência.Então, se resigna a morar com a sogra, a suportar as
manifestações de desagrado que desperta por preferir a cerveja ao vinho, por
não saber se portar à mesa, por não saber se vestir. Também, ao vexame de ter
seus documentos revistados, na rua, ao ir ao cinema sozinha, de se ver
observada por uma balconista que logo dela se aproxima quando entra na loja, na
desconfiança diante daquele que não é francês.E diz para a amiga na carta: meu esposo é muito bom (...) minha avó e
minha mãe que são as pessoas que mais gostam de mim nesse mundo, dizem que
escolhi bem. E eu acho que é verdade.Mas, não acredita que exista outro
lugar melhor do que seu país – se não fosse porque lá faltam as coisas, porque
lá falta luz – e chora no momento de deixá-lo para voltar ao exílio que
escolheu ou que a fizeram escolher.
É
um sentir que não se desvincula do que acontece a seu redor e esses dois tempos
– o individual e o social - separados pela voz narrativa do conto de Marilyn
Bobes, na verdade, se entrelaçam para dizer dos desacertos em que vivem um e
outro.


