CONTRA-HISTÓRIA
é simetricamente oposta à História Oficial. Ela é silenciosa, subalterna, sem
registro, sem marcos públicos, salvo aqueles da história feito corpo dos atores
e depositária nos fragmentos da memória. É construída por todos, em todos os
dias, nas pequenas e nas grandes ações. Pode ser contraditória. A realidade não
permite inúmeras leituras? O mesmo se dá com nossas experiências, com nossas
vivências, com tnossas interpretações. Ela é sempre plural. Abre espaços para
as minorias, deixa entrar os sentimentos, não tem medo de apresentar-se
prosaica, relatando as coisas comuns, matéria da qual todos somos feitos.Do Dicionarinho nada convencional
As palavras se
encadeiam pelo sentido. A última do verbete evoca a primeira do seguinte. Assim
é o Dicionarinho nada convencional
de Arlene Renk, ainda inédito.
Professora do
Departamento de Educação e Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Oeste
de Santa Catarina, Campus Chapecó, Doutora em Antropologia Social pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela se inspirou no Dicionarinho maluco de Haroldo Maranhão para escrever sobre uma série de categorias de uso comum e
sobre elas refletir.

Partindo de uma
frase da artista plástica Yoko Ono, a mulher
é o negro do mundo, induzindo à pergunta por que o negro?, “negro” é então o seu primeiro verbete. A ele se
seguem “Outro”, “Construção social”, “Mapa cognitivo”, “Etnocentrismo”,
“Ditadura da estética”, “Padrões de herança” e tantos outros.
Como trabalho
que faz parte do Programa Interdepartamental OESTE NO PLURAL, o Oeste Catarinense
é privilegiado. O verbete Manipulação termina
com a pergunta como é construída a
identidade social no Oeste Catarinense e o verbete Oeste Catarinense remete à data de 1917 quando foi assinado o
acordo de paz entre o Paraná e Santa Catarina, definindo o limite entre os
Estados, encerrando a Guerra do Contestado. Guerra do Contestadoque também é um
verbete, ao qual se seguem outros à essa guerra relacionados. Os verbetes Des-locar, Pioneiro, Etnocidade
remetem à migração no Oeste Catarinense como também, nas entrelinhas, os
verbetes Brasileiro e Casamento se referem à região.
Do conjunto,
emergem observações – como lembrar esses camponeses de Átany, na Hungria, cuja
aldeia eles consideravam como o centro do mundo; ou mencionar o Edito de 1549
de Henri II da França que regulamentava o uso do carmesim; ou se referir às
negativas figuras femininas da mitologia: Lâmia, Harpias, Queres, Fraude. – que
são, sumamente, oportunas quando está a ser tratado o Etnocentrismo, Cidadão, Mitologias.
E outras, não
menos oportunas: as que levam a pensar sobre o que, em geral, é comumente
aceito embora não resista à mais leve e superficial análise: as inegáveis
situações que obrigam crianças a um trabalho prematuro que lhes nega a
infância; a baixa esperança de vida para uma grande parcela da população
brasileira; a forma depreciativa no trato com o negro; as armadilhas que cerceiam
a presença dos considerados indesejáveis
(os índios, os pretos, os pobres); a descriminação para com a mulher; as
condições de trabalho que agridem o trabalhador.
Idéias,
conceitos e fatos se intercalam nesses verbetes onde as perguntas mostram
caminhos: Quem sabe possamos fazer um
pequeno exercício de pensar as coisas
ao avesso?, Ao invés da perspectiva maniqueísta por que não pensamos o pluralismo?, Não seria lícito pensar
beleza quanto um conceito de trabalho?, E
quem poderá fazer a história desses
desinformados?”. E, onde breves textos funcionam como instigantes sínteses
como a do verbete Outro: Os pobres podem ser o Outro para os ricos, e
os loucos podem ser o Outro para aqueles que não se consideram loucos. E
poderíamos arrolar infinitamente as “outridades” de nossa sociedade. O importante
é resgatar que não se nasce Outro. Torna-se. Isto é, os outros são
construídos socialmente.
Sem dúvida,
palavras de Um dicionarinho nada convencional.
Um dicionário que, para alguns, talvez não seja necessário: sempre há uma elite
informada e pensante no país. Todavia, para muitos, muitos, para os que não tem
olhos para ver, nem ouvidos para escutar – e sabe-se quanto um sistema educativo
crítico e honesto voltado para o país seria desejável – são páginas que, certamente,
deveriam ser de leitura imprescindível.
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