Trata-se de uma revista de
cuidada diagramação, enriquecida com belas fotos da terra do escritor além
daquelas outras, inúmeras, que o mostram desde o seu primeiro ano de idade até
convalescente da angioplastia a que foi submetido, em 1996.
A matéria que a compõe é
feita de uma “Memória Seletiva”, apresentação cronológica, ano atrás ano, dos
acontecimentos de sua vida, de uma longa entrevista concedida à equipe da
revista e a seus convidados (Ana Miranda, Lilia Moritz Schwarcz, Francisco
Iglésias, Dias Gomes, José Paulo Paes e Wilson Martins) cujas cem questões
versaram sobre Literatura. O objetivo, ao centrar as perguntas no terreno
literário, foi procurar oferecer ao
leitor a oportunidade de conhecer melhor o que o escritor pensa atualmente
sobre seu ofício.
Em tão longa entrevista, nem
sempre as respostas devem ter correspondido às expectativas de quem formulou as
perguntas. Mas, com certeza, do homem não se esmaeceram os contornos, também
delineados sob a rubrica que congregou Darcy Ribeiro, Mario Vargas Llosa,
Nelson Pereira dos Santos, Celso Monteiro Furtado, Alice Raillard, Oscar
Niemeyer. Nessas Confluências está
presente o amigo e, então, as suas outras qualidades. Inúmeras.
Darcy Ribeiro lembra esse
seu poder de comunicação que tão igual se apresenta na Bahía como em Paris ou
nos seus romances; esse destino que fez dele o romancista brasileiro que mais
teve livros apreendidos pela polícia e, também, o romancista brasileiro mais
traduzido e mais lido no mundo inteiro. E Darcy Ribeiro confessa a sua admiração
pelo escritor que todo mundo quer ler e que obriga a gente a tomar partido contra as injustiças desse mundo.
Injustiças que, em relação a
Jorge Amado – escritor, parece não terem ocorrido haja visto Guia, a rubrica em que são referenciadas
as suas obras e as traduções que delas se fizeram, assim como os livros e artigos
que sobre elas se escreveram.
Trabalhos críticos de Fábio
Lucas e de Eduardo de Assis Duarte completam a revista, assim como o “borrão”
de duas cenas iniciais do livro que ele está escrevendo “A apostasia universal
de Água Brusca” e as variantes da primeira página do conto “Do recente milagre
dos pássaros acontecido em terras de Alagoas nas ribanceiras do rio São
Francisco”. E, ainda, a correspondência de três amigos: um bilhete de Mário de
Andrade, uma carta de Otto Lara Rezende e outra de Pablo Neruda.
Cadernos de Literatura Brasileira ao proporcionar aos admiradores e aos
estudiosos de Jorge Amado um material inédito de grande valor ao qual se acrescentam
as belíssimas gravuras de Caribé e de Carlos Scliar, se constitui uma prova de
que é possível, ainda num país de Terceiro Mundo, realizar edições sérias e
inteligentes e das quais o bom gosto não permaneça alheio.

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