domingo, 4 de maio de 1997

Para Jorge Amado

           Em março, deste ano, foi publicado o número 3 de Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles.O primeiro número foi dedicado a João Cabral de Melo Neto, o segundo a Raduan Nassar e, este terceiro, a Jorge Amado.

           Trata-se de uma revista de cuidada diagramação, enriquecida com belas fotos da terra do escritor além daquelas outras, inúmeras, que o mostram desde o seu primeiro ano de idade até convalescente da angioplastia a que foi submetido, em 1996.

           A matéria que a compõe é feita de uma “Memória Seletiva”, apresentação cronológica, ano atrás ano, dos acontecimentos de sua vida, de uma longa entrevista concedida à equipe da revista e a seus convidados (Ana Miranda, Lilia Moritz Schwarcz, Francisco Iglésias, Dias Gomes, José Paulo Paes e Wilson Martins) cujas cem questões versaram sobre Literatura. O objetivo, ao centrar as perguntas no terreno literário, foi procurar oferecer ao leitor a oportunidade de conhecer melhor o que o escritor pensa atualmente sobre seu ofício.

           Em tão longa entrevista, nem sempre as respostas devem ter correspondido às expectativas de quem formulou as perguntas. Mas, com certeza, do homem não se esmaeceram os contornos, também delineados sob a rubrica que congregou Darcy Ribeiro, Mario Vargas Llosa, Nelson Pereira dos Santos, Celso Monteiro Furtado, Alice Raillard, Oscar Niemeyer. Nessas Confluências está presente o amigo e, então, as suas outras qualidades. Inúmeras.

           Darcy Ribeiro lembra esse seu poder de comunicação que tão igual se apresenta na Bahía como em Paris ou nos seus romances; esse destino que fez dele o romancista brasileiro que mais teve livros apreendidos pela polícia e, também, o romancista brasileiro mais traduzido e mais lido no mundo inteiro. E Darcy Ribeiro confessa a sua admiração pelo escritor que todo mundo quer ler e que obriga a gente a tomar partido contra as injustiças desse mundo.

           Injustiças que, em relação a Jorge Amado – escritor, parece não terem ocorrido haja visto Guia, a rubrica em que são referenciadas as suas obras e as traduções que delas se fizeram, assim como os livros e artigos que sobre elas se escreveram.

           Trabalhos críticos de Fábio Lucas e de Eduardo de Assis Duarte completam a revista, assim como o “borrão” de duas cenas iniciais do livro que ele está escrevendo “A apostasia universal de Água Brusca” e as variantes da primeira página do conto “Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas nas ribanceiras do rio São Francisco”. E, ainda, a correspondência de três amigos: um bilhete de Mário de Andrade, uma carta de Otto Lara Rezende e outra de Pablo Neruda.

           Cadernos de Literatura Brasileira ao proporcionar aos admiradores e aos estudiosos de Jorge Amado um material inédito de grande valor ao qual se acrescentam as belíssimas gravuras de Caribé e de Carlos Scliar, se constitui uma prova de que é possível, ainda num país de Terceiro Mundo, realizar edições sérias e inteligentes e das quais o bom gosto não permaneça alheio.

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