Alfonsina Storni nasceu em
1892 na Argentina e publicou o primeiro livro de versos aos vinte e quatro
anos, La inquietud del rosal cujo
título talvez seja uma síntese de toda a sua poesia que virá depois. Porque
Alfonsina Storni viveu em desassossego, em busca de um amor que, seus poemas
dizem, jamais a colmou. Uma roseira ela foi nas suas palavras exuberantemente
mergulhada na natureza e cujo tom, por vezes agressivo não esconde a profunda
ternura, a profunda paixão que ela nutre pelo que vive a seu redor.
Em seus primeiros versos
existe, talvez, algo de romântico que se vai endurecendo na experiência da
vida, no passar dos anos a lhe ensombrarem os sonhos e fazer surgir essa poesia
de antagonismos onde há luzes e sombras; onde há fraquezas e valentias.
Raramente, Alfonsina Storni
se mostra luminosa como no poema “Sábado” (que faz parte de El dulce daño, publicado em 1918),
expressão límpida de uma alegria de viver. Primeiro, ela é alguém a se mesclar
com as plantas, com a emanação da terra, com a água, com o perfume das flores.
Depois, será o ritual da acolhida nos sons
de louças e cristais, no roçar da toalha de mesa e na sua espera sob o sol
da manhã.
Construído como breve
narrativa prosaica (me levantei cedo,
deitada na grama, penteei meus cabelos), nela vai se
entrelaçando um dizer cujo poético advém, precisamente, dessa simplicidade
cotidiana que uma ou outra expressão – douradas
migalhas, garças melindrosas –
modifica e torna quase feérica.
Se a realidade se impõe com
uma preciosa notação de tempo ou com os ruídos da casa, o que liricamente
domina é esse esperar feminino, felicidade que se antecipa ao momento feliz.
Esperava-te são as últimas palavras do poema e poucos versos de Alfonsina Storni
expressaram tão amorosa feliz certeza. Um feliz momento de luz nesse seu
universo sempre mergulhado em incertezas.

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