domingo, 11 de maio de 1997

A espera

          Alfonsina Storni nasceu em 1892 na Argentina e publicou o primeiro livro de versos aos vinte e quatro anos, La inquietud del rosal cujo título talvez seja uma síntese de toda a sua poesia que virá depois. Porque Alfonsina Storni viveu em desassossego, em busca de um amor que, seus poemas dizem, jamais a colmou. Uma roseira ela foi nas suas palavras exuberantemente mergulhada na natureza e cujo tom, por vezes agressivo não esconde a profunda ternura, a profunda paixão que ela nutre pelo que vive a seu redor.

          Em seus primeiros versos existe, talvez, algo de romântico que se vai endurecendo na experiência da vida, no passar dos anos a lhe ensombrarem os sonhos e fazer surgir essa poesia de antagonismos onde há luzes e sombras; onde há fraquezas e valentias.

          Raramente, Alfonsina Storni se mostra luminosa como no poema “Sábado” (que faz parte de El dulce daño, publicado em 1918), expressão límpida de uma alegria de viver. Primeiro, ela é alguém a se mesclar com as plantas, com a emanação da terra, com a água, com o perfume das flores. Depois, será o ritual da acolhida nos sons de louças e cristais, no roçar da toalha de mesa e na sua espera sob o sol da manhã.

          Construído como breve narrativa prosaica (me levantei cedo, deitada na grama, penteei meus cabelos), nela vai se entrelaçando um dizer cujo poético advém, precisamente, dessa simplicidade cotidiana que uma ou outra expressão – douradas migalhas, garças melindrosas – modifica e torna quase feérica.

          Se a realidade se impõe com uma preciosa notação de tempo ou com os ruídos da casa, o que liricamente domina é esse esperar feminino, felicidade que se antecipa ao momento feliz.

          Esperava-te são as últimas palavras do poema e poucos versos de Alfonsina Storni expressaram tão amorosa feliz certeza. Um feliz momento de luz nesse seu universo sempre mergulhado em incertezas.

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