domingo, 18 de maio de 1997

Lembrando o poeta

          Chama-se “Um soneto”, pertence ao Caderno H, publicado no “Letras & Livros” do Correio do Povo, de Porto Alegre, no dia 23 de outubro de 1982, embora tenha sido escrito trinta anos antes.

          É uma breve história triste: o reencontro, então, desencontro, de velhos amigos. No primeiro quarteto, que se inicia com um prosaico - Boa tarde... Boa tarde! já está presente esse algo de inquietação – a busca um do outro – que o caminhar lado a lado não elude.

          No segundo quarteto, a tentativa de, em nome do passado, Representar de novo a história antiga mas já com a certeza de que são outros – transformados pelo tempo – os que se encontraram. No terceto que se lhe segue fazem o plausível: separar-se com um eufemístico até breve e um grande espanto que o segundo terceto explicará: constatar que não existem mais aquelas duas pessoas que haviam sido tão amigas.

          Encerrada entre o encontro e a separação, a melancolia do que passou, do sentimento que desaparece, se transforma em nada.

          É o passar do tempo que tudo calcina, cristalizado em versos de extrema simplicidade. É ainda o Mário Quintana do soneto ao qual ele volta depois de ter publicado Canções. Neste “Um soneto”, de 1952, a forma fixa perde a rigidez – dela o poeta nunca foi prisioneiro – e é fortemente iluminada por esse poder de fazer versos alimentados pelo efêmero que foi tão próprio de Mário Quintana.

          Há nesse soneto a perfeição de seu decassílabo, as suas muitas rimas ricas, a harmonia de seu ritmo, a emoção de um encontro sem mistérios.

          Sobretudo, há nele contida a imensa sabedoria de alguém que não ignora o quanto existe de cambiante e de infiel na alma dos homens.

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