Chama-se “Um soneto”,
pertence ao Caderno H, publicado no “Letras & Livros” do Correio do Povo, de Porto Alegre, no
dia 23 de outubro de 1982, embora tenha sido escrito trinta anos antes.
É uma breve história triste:
o reencontro, então, desencontro, de velhos amigos. No primeiro quarteto, que
se inicia com um prosaico - Boa tarde... Boa tarde! já está presente
esse algo de inquietação – a busca um do outro – que o caminhar lado a lado não
elude.
No segundo quarteto, a tentativa
de, em nome do passado, Representar de
novo a história antiga mas já com a certeza de que são outros –
transformados pelo tempo – os que se encontraram. No terceto que se lhe segue
fazem o plausível: separar-se com um eufemístico até breve e um grande espanto que o segundo terceto explicará:
constatar que não existem mais aquelas duas pessoas que haviam sido tão amigas.
Encerrada entre o encontro e
a separação, a melancolia do que passou, do sentimento que desaparece, se
transforma em nada.
É o passar do tempo que tudo
calcina, cristalizado em versos de extrema simplicidade. É ainda o Mário
Quintana do soneto ao qual ele volta depois de ter publicado Canções. Neste “Um soneto”, de 1952, a
forma fixa perde a rigidez – dela o poeta nunca foi prisioneiro – e é
fortemente iluminada por esse poder de fazer versos alimentados pelo efêmero
que foi tão próprio de Mário Quintana.
Há nesse soneto a perfeição
de seu decassílabo, as suas muitas rimas ricas, a harmonia de seu ritmo, a
emoção de um encontro sem mistérios.
Sobretudo, há nele contida a
imensa sabedoria de alguém que não ignora o quanto existe de cambiante e de
infiel na alma dos homens.

Nenhum comentário:
Postar um comentário