domingo, 1 de dezembro de 1996

Promessas e avisos

          “Nosotros habíamos manietado la lástima” é um dos contos de David Sánchez Juliao publicado no livro Una década, 1973-1983 (Plaza y Janes, Colômbia). Inicia com a frase Sim, nós o matamos e a voz narrativa não abandonará a primeira pessoa do plural, esse nós que toma decisões e que é responsável pelos atos praticados.

          O desejo de todos teria sido fuzilar o indivíduo. Mas para que pudesse morrer com a cara intacta, o enforcaram. E como o fizeram se constitui a primeira parte do relato: a casualidade que levou a vítima a chegar onde eles estavam (porque nenhum deles o procurou) e terem sempre uma corda à mão o que lhes facilitou a tarefa.

          Primeiro, experimentaram o galho da árvore à beira do rio e sem a menor prática – nunca haviam enforcado ninguém antes – sem o menor susto ou nervosismo fizeram o nó e o puseram sobre o cavalo. Com uma varinha o espantaram e o animal, disparando, deixou no ar o corpo a se balançar.

          Antes desse seu final,ele havia chorado e havia se exclamado, pedindo piedade. Mas eles (não se sabe quantos), permaneceram impassíveis, a piedade manietada porque falara em sofrimento e isso eles não suportaram, pois de sofrimentos entendiam eles.

          Na segunda parte do conto é esclarecido o porquê da condenação: No começo ele vinha por aqui como todos vêm. Muito de vez em quando nos três primeiros anos de governo, mas a medida que se aproximam as eleições, as visitas vão se aproximando tanto uma da outra que no fim estão por aqui um dia sim e um dia não.

          São os candidatos que tudo e, em grande, prometem. A esse em que (embora sendo gatos escaldados) acreditaram – porque parecia sincero e os convencera o suficiente para levá-los a desprezar o ônibus do adversário e a não se importar em perder os doces e o rum e o dinheiro distribuídos no dia da eleição – eles avisaram que se não cumprisse o prometido seria morto.

          O candidato achava graça e continuava prometendo e foi muito o dinheiro que arrancou deles para comprar votos em outros lugares. E ganhou as eleições. E esqueceu as promessas.

          Se a elas tivesse sido fiel, teria feito do lugar o mais belo da Colômbia porque não ia ficar criança com vermes, nem mulher com dente cariado, nem homem sem terra própria para manter a família. A escola seria grande e com muitos professores para que as crianças e os velhos aprendessem a escrever, a ler e a falar bonito como ele.

          Mas, como todos os outros candidatos ele enganou a todos. Quatro anos depois voltou para tudo recomeçar, prometendo as mesmas coisas sem ter acreditado nos avisos que lhe haviam feito. Então foi muito tarde para se dar conta que a palavra para alguns é coisa séria. E por isso morreu.

          No conto não é dito seu nome. Tampouco o daqueles que o enforcaram, dominando uma, talvez insidiosa piedade. E do anonimato se ergue a ação. E é ela que interessa, pois os homens são sempre os mesmos.

          Numa ditadura, esse conto de David Sánchez Juliao seria (sem dúvida) de leitura proibida; nas democracias do Continente, com certeza, uma lamentável catarse.

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