“Nosotros
habíamos manietado la lástima” é um dos contos de David Sánchez Juliao
publicado no livro Una década,
1973-1983 (Plaza y Janes, Colômbia). Inicia com a frase Sim, nós o matamos e a voz narrativa não abandonará a primeira
pessoa do plural, esse nós que toma decisões e que é responsável pelos atos
praticados.
O desejo de
todos teria sido fuzilar o indivíduo. Mas para que pudesse morrer com a cara intacta, o enforcaram. E como o
fizeram se constitui a primeira parte do relato: a casualidade que levou a
vítima a chegar onde eles estavam (porque nenhum deles o procurou) e terem
sempre uma corda à mão o que lhes facilitou a tarefa.
Primeiro,
experimentaram o galho da árvore à beira do rio e sem a menor prática – nunca
haviam enforcado ninguém antes – sem o menor susto ou nervosismo fizeram o nó e
o puseram sobre o cavalo. Com uma varinha o espantaram e o animal, disparando,
deixou no ar o corpo a se balançar.
Antes desse seu
final,ele havia chorado e havia se exclamado, pedindo piedade. Mas eles (não se
sabe quantos), permaneceram impassíveis, a piedade manietada porque falara em sofrimento e isso eles não suportaram,
pois de sofrimentos entendiam eles.
Na segunda
parte do conto é esclarecido o porquê da condenação: No começo ele vinha por aqui como todos vêm. Muito de vez em quando nos
três primeiros anos de governo, mas a medida que se aproximam as eleições, as visitas
vão se aproximando tanto uma da outra que no fim estão por aqui um dia sim e um
dia não.
São os
candidatos que tudo e, em grande, prometem. A esse em que (embora sendo gatos
escaldados) acreditaram – porque parecia sincero e os convencera o suficiente
para levá-los a desprezar o ônibus do adversário e a não se importar em perder
os doces e o rum e o dinheiro distribuídos no dia da eleição – eles avisaram
que se não cumprisse o prometido seria morto.
O candidato
achava graça e continuava prometendo e foi muito o dinheiro que arrancou deles
para comprar votos em outros lugares. E ganhou as eleições. E esqueceu as
promessas.
Se a elas
tivesse sido fiel, teria feito do lugar o mais belo da Colômbia porque não ia ficar criança com vermes, nem
mulher com dente cariado, nem homem sem terra própria para manter a família.
A escola seria grande e com muitos professores para que as crianças e os velhos
aprendessem a escrever, a ler e a falar bonito
como ele.
Mas, como todos
os outros candidatos ele enganou a todos. Quatro anos depois voltou para tudo recomeçar,
prometendo as mesmas coisas sem ter acreditado nos avisos que lhe haviam feito.
Então foi muito tarde para se dar conta que a palavra para alguns é coisa séria.
E por isso morreu.
No conto não é
dito seu nome. Tampouco o daqueles que o enforcaram, dominando uma, talvez
insidiosa piedade. E do anonimato se ergue a ação. E é ela que interessa, pois
os homens são sempre os mesmos.
Numa ditadura, esse conto de David Sánchez Juliao seria (sem dúvida) de leitura proibida; nas democracias do Continente, com certeza, uma lamentável catarse.
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