Buçal de prata foi publicado pela Editora Tchê de Porto Alegre em 1981. No dizer dos
editores, é um livro de versos que se antecipa, mostrando caminhos: uma
recriação poética dos motivos gauchescos.
Andamentos poéticos para toadas e milongas, chamou o autor, Luiz
Coronel, a seu trabalho de dez anos,
feito para ser musicado. Mas, independentemente da complementação musical que tenham essas letras, um grande valor
poético as alimenta.
Numa temática tradicional do
gênero, que se encrava no universo gauchesco, se alinham os elementos
exteriores, desenhando esse universo feito, sobretudo, de uma visão de mundo
onde prevalece um extremo amor próprio e onde se mostram os ideais de coragem e
de liberdade.
No poema “As pilchas” e
“Botas de garrão” há todo um léxico da indumentária (esporas, vincha, guaiaca,
pala, barbicacho, bombacha, lenço colorado, botas de garrão) que se alia a uma
expressão do eu, marcada por
possessivos e por verbos na primeira pessoa que vai delineando o tipo altaneiro
que estará presente nos demais poemas. Seja quando fala de sofrimentos (Meus pesares e lamentos / levo a outras
invernias / dou canto às ventanias / com meus penares me agüento), seja
quando fala de seus versos (Pajando sou
galo de rinha / e a minha rima é uma faca / que se escapa da bainha), seja
quando fala de valentias (Se troveja
gritarias / já relampeja minha adaga).
E, entre esses versos,
emerge uma voz de mulher, expressando temas inusitados num gênero cuja
expressão foi sempre masculina. Versos que se emaranham em verdadeiros achados
estilísticos e numa bela simplicidade narrativa para falar do fado, do abandono
e da espera submissa nos cinco poemas que compreendem os “Cantos de Leontina
das Dores”.
No primeiro, Leontina das
Dores se apresenta para dizer da solidão da menina que foi e da solidão que
dura para sempre. No segundo, fala das flores, querendo dizer outras coisas: o
amor que passou, a condenação à espera amorosa. No terceiro, é uma expressão de mulher à espera
do filho e as ilusões que, sobre esse filho, ela tece. No quarto poema, os
versos dizem de amor preterido e de solidão. E no quinto, ela pede ao filho que
não vá embora: Meu filho, não olhes pra estrada;meu
filho, não olhes pro rio. Lembra
para ele que, ao obedecer ao desejo de partir, irá trocar a carne no prato, a brisa dos eucaliptos, a
casa na coxilha por uma marmita fria, pelas fuligens no ar, pelo casebre. A essas razões objetivas se misturam conceitos
enovelados na natureza: Aprende a lição
das árvores / ganham o céu pelas folhagens
/ e o chão pelas raízes diz a última estrofe do poema, reafirmando que a aflição de horários, a angústia dos salários se contrapõe à vida
tranquila de arroio, pesca, mate amargo, sesta, china e baio para montar.
Nos campos o latifúndio. Os homens
abandonando o pago. Luiz Coronel acompanha os novos tempos e, nos seus
versos, fica evidente que na conhecida trilha da lírica gauchesca ainda há
caminhos a palmilhar.
E o poeta a eles não se
nega.
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