domingo, 8 de dezembro de 1996

De pernilongos

             É uma Arca de Noé cheia de palavras: mini-contos, apólogos, fábulas, ou simples historinhas de animais fazem parte do livro de David Sánchez Juliao.

Publicado em 1976, El arca de Noé torna a aparecer em Una década (1973-1983), publicado pela Playa y Janes da Colômbia e que reúne vários livros de quem é um romancista, um comunicador, um jornalista, um sociólogo, um catedrático e um educador popular.

O material de que é feito El Arca de Noé foi encontrado ou já escrito ou simplesmente David Sánchez Juliao transcreveu do que lhe foi contado. Também, ou principalmente, o que fez foi dar rédea solta a sua imaginação. E a tal ponto ele diz, que sobre as teclas da máquina via animaizinhos dançando e fugindo do jogo de seus dedos.

No texto, lá estão – o avestruz, a tartaruga, a aranha, a abelha, a baleia, a cegonha, o coelho, o papagaio, a borboleta – dizendo coisas sempre acertadas.

Não é sem razão que David Sánchez Juliao antes de começar suas histórias, recorda a La Fontaine  quando diz servir-se dos irracionais para instruir os humanos.E, assim, nessa Arca de Noé cabe todo um compêndio de ensinamentos e de constatações. Basta que os homens de Continente os saibam entender.Como o caso do pernilongo, por exemplo. Só ele o gringo não podia vencer: Quando no começo do século os gringos começaram a construir o Canal do Panamá, uma invasão de pernilongos dizimou bandos de operários estrangeiros. Desde então, o pernilongo se converteu em herói latino-americano. Levantaram para ele estátuas de aguilhão inteiro, sua silhueta foi impressa em selos de correio, com seu nome foram batizadas livrarias, jornais e revistas e foi introduzido com honra no índice da História Natural. Quando o gringo voltou, meio século depois, com a intenção de abrir mais canais, submeter mais povos, corromper mais funcionários e controlar mais economias, os pernilongos atacaram de novo, convencidos de sua prepotência, mas de forma com que sempre tinham feito: em nuvens negras, em enxames dispersos, em grupinhos isolados. E lhes foi mal; porque enquanto eles tinham se dedicado a dormir o sono das estátuas, os selos e a história, os gringos haviam se dedicado a inventar o inseticida-spray. E perderam.

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