É um pequeno
livro, Prêmio Casa de Las Américas: Alguien
tiene que llorar. E o primeiro conto que lhe dá o título, um tecer de
vozes, é feito de quatro monólogos que se intercalam para falar de Maritza.
O primeiro é o
de Daniel que, a partir de uma fotografia, apresenta as donas das demais vozes
e aquela sobre a qual serão ditas as palavras: um grupo de adolescentes, Alina,
Lázara, Caridad e Maritza, imobilizado pela imagem que ficou. Orgulhosa de sua
feminilidade, uma; tímida e medrosa, a outra; plena de uma beleza imperfeita, a
terceira.Sobressaindo-se das demais, presença
agressiva, a que fora marcada pelo destino ou pela vida.
De suas vozes
emerge um universo feminino esboçando caminhos possíveis: o do casamento, o da
busca do amor renovado, o da solidão, o da morte.
E a morte dando
origem a cada uma das narrativas e, a partir delas, aos retratos de mulher:
Alina, gorda e realizada mãe de família; Caridad, bela e sem filhos, vivendo a
troca de amores; Lázara, miúda e feia, incapaz na sua insegurança de conservar
o interesse masculino e Maritza, de rosto
perfeito e misterioso, talvez marginal, talvez incompreendida.
Retratos
incompletos que sugerem amores, desacertos, preconceitos, certezas e dúvidas.
Sobretudo quando Maritza é delineada.A marca do tempo na foto torna
transparentes os seus olhos como se já então, tivesse sido marcada para morrer, diz Daniel. E, anos passados, a encontraram
afogada na banheira, o corpo virado, a garrafa quase vazia.Havia sido bela e
sagaz. Confidente compreensiva. Bondosa e despojada. Tinha, ainda, o desprezo
pelas convenções de quem, para ver o mundo, inova caminhos. E, ao não
encontrá-los, procura a morte. Sem filhos,
sem marido e com sua patologia. Para que deseja viver? pergunta, então, Alina.
Alina que ao
ser criada para constituir família, não imagina que alguém dela possa
prescindir. Na sua convicção de que só a família completa a mulher, não lhe é
possível entender a vida das amigas, uma a casar várias vezes, a outra
solitária sem o desejar e Maritza um ser anormal, como presume.
Presunção que,
ao se cruzar com o que pensam e com o que sentem Lázara, Caridad e Daniel,
institui uma ambigüidade. Ora são insinuações, ora silêncios, ora explicações e,
desconhecido, permanece o querer de Maritza e indefinida, a sua opção. Nesse
seu drama, percebido pelos demais e no cotidiano drama das três amigas da vida inteira, há um refletir sobre o
ser feminino que se expressa em interrogações. Aquela contida no texto da
escritora mexicana Rosario Castellanos que aparece em epígrafe: Deve haver outra maneira que não se chame
Safo nem Mêsssalina nem Maria Egipciaca nem Madalena nem Clemencia Isaura.
E as outras que
Marilyn Bobes, nascida em La Habana no ano de 1955, astuciosamente, dilui nos
quatro monólogos de seu conto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário