É um breve
livro encantador, escrito para fixar, ainda que em grandes traços, a história
do “quitrin”, essa carruagem eminentemente cubana, indispensável em La Habana
das primeiras décadas do século.

O autor,
Idelfonso Estrada y Zenea, que viveu entre 1826 e 1912, além de El quitrin, escreveu poemas e o romance
El guajiro.A ele se deve, também, a introdução dos jardins de infância em Cuba.
El quitrin é construído em quatro partes: a primeira descreve
detalhadamente a carruagem com suas imensas rodas e seu forro de diversas cores;
na segunda e na terceira, também detalhadamente, aquele que o conduzia, o “calecero”
particular e o de aluguel. E, na quarta parte intitulada “episódios”, narra
aqueles relacionados com o “quitrin”: um nascimento, um assassinato, uma disparada
do cavalo assustando seus viajantes, um padre e um sacristão. E o episódio que
estaria perfeito para representar uma comédia de costumes se não fosse feito de
pequenos dramas: trata do casal do interior que, enriquecido, se muda para a
capital e nesse intuito de ostentação que tão bem caracteriza os novos ricos,
acredita ser absolutamente necessária a posse de um “quitrin”. A carruagem é
comprada e providenciados os cavalos e os homens para guiá-la. No dia em que
seria estreada, porém, sucederam-se os incidentes e os acidentes e, embora
cheio de jóias e de luxos e de boas intenções de ir à missa, a dona do
“quitrin” teve de se resignar a voltar para casa sem ter ido a lugar algum.
O texto de
Idelfonso Estrada y Zenea, combinando o tragi-cômico com uma jocosa crítica de
costumes, se constrói em dois tons. Um deles constituído de rápidas frases
informativas que narram a ascenção social de Juana e Liborio e a sua ida para a
cidade:
E vieram.
E compraram uma magnífica casa para viver.
E outras várias casas mais eles compraram.
E dom Libório se meteu a ser usurário.
E de tudo aproveitavam.
Mas não tinham “quitrin”.
E Juana disse a dom Liborio que era preciso ter
“quitrin”.
E dom Liborio disse que sim.
E comprou o “quitrin”.
Mas, faltavam os cavalos [...]
Num tom
narrativo lento, mas igualmente corrosivo na descrição dos tipos e de suas
ações, o texto que completa a história: como eles se vestem – e o casaco e
bengala de punho de ouro, e sapatos novos de verniz, e lenço de cambraia
encharcado em água de colonia e brincos de brilhante e pregador de ouro e anéis
de valor nos dedos – e como agem em relação a seus escravos, parecendo deles ignorar
a condição humana.
E o pequeno livro que se
propunha contar a história do “quitrin” e dizer como ele era, também fala de
usos correntes na época. E de ambições, de vaidades e de ridículos. E dos
pobres que disso tudo sofrem as conseqüências
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