Trata-se de um dos maiores
romancistas brasileiros e é, ainda, quase um desconhecido entre aqueles que
lêem no país: Dyonélio Machado, nascido em Quaraí, Rio Grande do Sul, então uma
pequena cidade de menos de vinte mil habitantes, no dia 21 de agosto de 1895, órfão
de pai assassinado quando tinha sete anos e começando a trabalhar para ajudar a
mãe, aos oito.
Artur Madruga, que em
setembro de 1986 escreveu a primeira biografia de Dyonélio Machado, numa
curiosa síntese sobre a profissão que exerceu disse que na Medicina ele teve o
seu sustento, na Política o seu tormento, na Literatura o seu alimento.
Médico, introdutor da
psiquiatria no Estado do Rio Grande do Sul, trabalhou durante trinta anos como
psiquiatra ou como Diretor do Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre,
foi deputado comunista na Assembléia Legislativa de seu Estado e autor de
ensaios e romances.Seu primeiro livro publicado, Política contemporânea, é de 1923; o segundo, um volume de contos, Um pobre homem, de 1927. De 1933 é Uma definição biológica do crime, sua
tese. De 1935, Os ratos.
Considerado esse romance sua
melhor obra, sua obra definitiva, parece impossível falar de Dyonélio Machado sem
a ela fazer uma referência. Sou o
romancista de um romance só,
disse uma vez com algo de melancolia. A opinião da crítica e as dezessete edições
que se sucederam soem lhe dar razão, assim como o prêmio recebido em 1935.
Para concorrer ao Concurso
da Companhia Editora Nacional de São Paulo, escreveu em cinco horas de vinte
noites, o romance cuja concepção havia durado nove anos.
O jurado, por entender que
entre as obras que se apresentaram, quatro estavam em igualdade de condições,
outorgou o Primeiro Prêmio de Romance Machado de Assis a essas quatro. Uma
delas era Os ratos de Dyonélio
Machado.
Curiosamente, ele soube do
prêmio na escala que o Itaimbé, barco de carga, fez no porto de Santos. Estava nos porões do navio, juntamente com outros
vinte presos políticos levados, como ele, para as cárceres do Rio de Janeiro onde
acabou ficando um ano.
Posto em liberdade, volta ao
sul, para a sua pequena cidade onde o esperavam sua mulher e seus filhos. Ao
retornar a Porto Alegre o faz justamente no dia em que Getúlio Vargas instaura
a ditadura no país. Dyonélio Machado decide que não mais será preso e foge pelo
litoral, buscando proteção na casa de amigos.
Quando a situação se
tranquiliza, é reintegrado nas suas funções do Hospital Psiquiátrico e retoma
sua vida de médico, escritor e jornalista.
É quando adoece gravemente.
Uma cardiopatia o mantém meses na cama. Desafiado pela morte, decide viver escrevendo
um livro. Muito fraco para fazê-lo, ditava para a mulher e para a filha e,
então, os amigos datilografavam o texto, um romance chamado O louco do Cati, publicado em março de
1942.
Já curado, escreve Desolação (1944) e Passos perdidos (1946). E, trinta e cinco anos depois, Nuanças.
Esses quatro romances, como
muito bem o disse a professora Zenilda Grawunder no número 10 dos Cadernos Porto e Vírgula (Porto Alegre,
1995) estruturalmente autônomos - tanto
que publicados em diferentes épocas – mas que apresentam entre si detalhes de
unidade temática, reiteração dos personagens, elementos simbólicos e históricos
e uma narrativa continuada, criam um universo extremamente representativo
de certo espaço e de certo tempo de vida do país.
Aproximar-se deste mundo
ficcional de exceção que, além da grande qualidade literária, faz um desenho do
país que permanece quase desconhecido de sua gente, leva a infinitos descobrimentos.
No entanto, essa aproximação
ou pela falta de pesquisadores na Universidade, devido às já tão conhecidas
razões; ou por opções ideológicas que
levam a estudos mais simpáticos ao Sistema; ou pelo alheamento de uma elite
universitária por assuntos concernentes ao país, tem sido, salvo as sempre honrosas
exceções, postergada.
E, Dyonélio Machado, autor
de uma obra de valor excepcional e que ultrapassou os modelos literários de sua
época continua sendo ignorado por um grande número de leitores e esquecido
pelas casas editoras.

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